UDJU RIBA DI NO VOTU

uma análise nacional e regional sobre as práticas E EXPERIÊNCIAS DO ELEITORADO em processos democráticos NA GUINÉ-BISSAU.

Sentido do voto na Região de Bafatá

Regional 24/07/2022 — 31/10/2022 Região de Bafatá, Setor de Bafatá, Setor de Bambadinca, Setor de Contuboel, Setor de Gã Mamudu, Setor de Galomaro Cosse, Setor de Xitole

O estudo sobre o processo do voto na Região de Bafatá reúne dados recolhidos em todos os seus setores administrativos, cruzando estatísticas e interpretações qualitativas. Analisa o perfil sociodemográfico e económico dos eleitores, o grau de confiança em partidos e candidatos, as influências que moldam o ato de votar e as perceções locais sobre o funcionamento da democracia no país.

Eleitores 2018
100.961
Questionários
508
Meta %
0,5 %
Grupo 1 Bafatá

1. PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E SOCIOECONÔMICO

Na Região de Bafatá, o primeiro bloco descreve o perfil dos eleitores a partir de dados recolhidos na capital e nos demais setores. A diversidade étnica e religiosa, aliada a diferentes idades e condições de vida, revela um mosaico social que une áreas urbanas e comunidades rurais. O estado civil, o número de eleitores por agregado, a escolaridade e as fontes de rendimento ilustram a importância da agricultura e do comércio, mas também a presença de outros vínculos laborais. Estes elementos ajudam a perceber como o contexto socioeconómico influencia o lugar que cada grupo ocupa no processo democrático.

regional

Gráfico 1: Etnia

Segundo o gráfico 1, a etnia predominante entre os/as entrevistados/as na região de Bafatá é a etnia Fula, representado por 54% do público-alvo, em seguida a etnia Mandinga (19%).

À semelhança de algumas regiões do país, Bafatá também acolhe todo o mosaico étnico que constitui a sociedade guineense. No entanto, segundo o gráfico 1, a etnia predominante entre os eleitores entrevistados nessa região é a Fula, que representa 54%, seguida da Mandinga com 19%.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 2: Idade

A idade dos/as entrevistados/as nessa região situa-se maioritariamente entre os 40 e 49 anos, representando 30% do total, seguida pela faixa etária de 30 a 39 anos, com 23%.

Grande parte dos eleitores entrevistados nessa região se apresenta como uma população com uma dinâmica sociopolítica ativa, ou seja, constituída por jovens que se encontram na faixa dos 40 a 49 anos e representam 30%, seguida da dos 30 a 39 anos, que correspondem a 23%.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 3: Sexo

Num universo de 508 entrevistados, 43% foram do sexo feminino e 57% do sexo masculino.

Tal como averiguado nas outras regiões, em Bafatá, num universo de 508 eleitores entrevistados, as mulheres constituem uma relativa minoria, 43%, contra 57% dos homens. Esse percentual revela um equilíbrio em termos de participação de género nessa região.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 4: Religião dos entrevistados

A religião predominante entre os/as entrevistados/as é a muçulmana, representada por 79%.

A religião predominante entre os eleitores entrevistados é a muçulmana, representada por 79%, seguida da cristã com 15%.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 5: Estado civil dos entrevistados.

No que diz respeito ao estado civil dos/as entrevistados/as nessa região, constatou-se que 78% são casados (as), 15% são solteiros (as), 2% são divorciados (as) e 6% são viúvos (as).

Grande parte dos eleitores entrevistados são pessoas com responsabilidade familiar e social, e 78% são casados, 15% solteiros, 2% divorciados e 6% viúvos.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 6: Tipos de casamento do público-alvo.

Entre os casados, o tipo de casamento predominante é o casamento de usos e costumes, representado por 45%.

Entre os casados, a forma de união predominante é baseada em usos e costumes de cada grupo e representa 45% dos eleitores entrevistados.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 7: Capacidade eleitoral.

Quando questionados/as sobre a capacidade eleitoral do agregado familiar, 64% afirmaram que no agregado menos de 10 pessoas podem votar e 31% responderam que no agregado mais de que 10 podem votar.

A maior percentual de eleitores questionados apresentavam, no seu agregado familiar, indivíduos com idade suficiente para exercer seu dever eleitoral. Em respostas obtidas, 64% asseguraram que no seu agregado têm poucas pessoas que podem exercer o voto, menos de 10. Na outra margem, 31% dos inquiridos garantiram ter mais de 10.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 8: Nível de escolaridade.

De acordo com o gráfico 8, o nível de escolaridade predominante entre os entrevistados/as é o nível de escolaridade 1ª – 4ª classe, representado por 19% em seguida o nível 10ª – 12ª classe, representado por 14%.

Já em relação ao nível de escolaridade dos entrevistados, conforme o gráfico 8, turmas de 1ª a 4ª classe são predominantes e representam 19%. A seguir as de 10ª – 12ª classe, com14%. Nessa região, 15% de eleitores inquiridos não sabem ler e escrever.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 9: Fonte de receita.

Outro aspeto relevante que o estudo buscou ilucidar são os domínios de atividades laborais dos entrevistados. Num universo de 508 entrevistados/as, 28% são agricultores/as, 11% trabalham no setor privado, 16% no setor público e 18% são comerciantes.

Outro aspeto relevante é atividade laboral dos eleitores entrevistados. Num universo de 508 entrevistados, 28% são agricultores, 18% comerciantes, 11% trabalhavam no setor privado e 16% servidores públicos. Em síntese, os dados revelam que são cidadãos com muita responsabilidade e ocupação que, direta ou indiretamente, contribuem para o processo de desenvolvimento do país. Essa parte introdutória sintetiza o quadro de informação sobre eleitores da região de Bafatá e analisa suas experiências e relações que estabelecem com o processo eleitoral.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
Grupo 2 Bafatá

Bloco 2 – Experiência eleitoral e confiança nos candidatos na Região de Bafatá

Neste bloco, o estudo examina como os eleitores da Região de Bafatá se relacionam com partidos e candidatos, a partir das suas experiências em diferentes tipos de eleições — legislativas, presidenciais e gerais. A análise mostra motivações distintas para manter ou alterar a escolha política, que vão desde fidelidade histórica até respostas a promessas não cumpridas. Avalia-se também a confiança atribuída a candidatos e partidos, bem como a utilidade percebida da democracia multipartidária. Ao combinar memória eleitoral e expectativas atuais, emergem padrões que revelam como a experiência individual se articula com o sentimento coletivo na vida política regional.

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Gráfico 10: Nº de vezes que o público-alvo já votou.

Quando questionadas/os quantas vezes já votaram, percebe-se que num universo de 508 entrevistadas/os, 41% assumiram que já votaram pelo menos 6 vezes.

Procurou-se observar o nível de confiança dos eleitores nos candidatos, sobretudo os aspetos por eles considerados pertinentes no momento de decisão de voto, em determinados candidatos ou partidos. Nesse sentido, quando questionados sobre o número de vezes que já votaram, percebe-se que pouco menos da metade teve a oportunidade de acompanhar, regularmente, o processo eleitoral. E num universo de 508 eleitores entrevistados, 41% assumiram que já votaram pelo menos 6 vezes, enquanto apenas 10% votaram duas vezes, como mostra o gráfico 10.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 11: Votação nas eleições gerais.

Em relação a participação nas eleições realizadas no pais, percebe-se que 11% afirmam ter votado nas eleições gerais em 1994, 3% nas eleições de 1999 e 6 % nas eleições gerais de 2014. 81% não souberam responder essa questão.

No que concerne à participação nas eleições realizadas no pais, 11% dos inquiridos votaram nas eleições gerais em 1994, 3% nas de 1999 e 6 % nas de 2014, todavia 81% de eleitores não souberam responder à questão. Esse facto pode estar relacionado às dificuldades que têm, provavelmente, em compreender o termo “eleições gerais”.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 12: Votação nas legislativas.

Em relação ao número de vezes que os entrevistados/as votaram nas eleições legislativas passadas, 40% afirmam ter votado 6 vezes, 26% nunca votaram, 8% afirmam ter votado pelo menos 2 ou 3 vezes.

Em relação ao número de vezes que os eleitores entrevistados votaram nas eleições legislativas, 40% votaram seis vezes, 26% nunca votaram e, por fim, 8% declaram terem votado, no máximo, duas ou três vezes. Visivelmente, em termos de participação, pode-se concluir que uma boa parte teve a experiência do processo eleitoral.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 13: Eleições presidenciais.

E nas eleições presidenciais o cenário é parecido, 40% dos entrevistados/as afirmam ter votado 6 vezes, 26% afirmam nunca ter votado nas eleições presidenciais e 9% afirmam ter votado pelo menos 3 vezes.

Nas eleições legislativas, o comportamento dos votantes é similar das presidenciais, pois 40% dos entrevistados foram às urnas votar seis vezes, 26% nunca votou e apenas 9% votou três vezes, no máximo.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 14: Nível de confiança no partido.

Durante o diagnostico também foi possível medir o nível de confiança que os entrevistados/as possuem em relação ao partido. Segundo o gráfico 15, verifica-se que 50% afirmam que não votam sempre no mesmo partido enquanto que 48% afirmam que sim tem votado sempre no mesmo partido.

Concernente ao nível de confiança que os eleitores inquiridos possuem nos partidos, segundo o gráfico 14, verifica-se que 50% não votam sempre no mesmo partido; contrariamente, 48% votam sempre no mesmo partido. Nota-se, praticamente, um equilíbrio nas decisões dos eleitores. Ou seja, há um grupo que se assume mais exigente e volátil na sua decisão de voto, enquanto o outro, cuja decisão não altera em termos de escolha, vota constantemente no mesmo partido.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 15: Motivos para votar no mesmo partido.

E os principais motivos de terem votado sempre no mesmo partido são: confiança no partido (37%), militância (4%) e confiança no Programa do Partido (7%).

Conforme demonstrado anteriormente, os eleitores entrevistados apresentaram, como um dos principais motivos de apostarem sempre no mesmo partido, as seguintes alegações: 37% declararam confiança no partido, 7% confiança no programa do partido, 4% militância e uma maior percentual, 52%, não soube responder à questão.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 16: Motivos para não votar no mesmo partido.

E os entrevistados/as que afirmam que não votaram no mesmo partido nas últimas eleições pelos seguintes motivos: não foi o melhor partido (11%), não tinha um bom Programa de Governo (15%) e a falta de confiança no partido (17%).

Os eleitores entrevistados, que afirmaram não votar sempre no mesmo partido nas eleições, apresentaram as seguintes justificativas : houve deceção com o partido,11% ; não houve um bom programa de governo, 15% e pela falta de confiança no partido, 17%. De igual modo, 51% dos eleitores entrevistados não souberam responder à questão.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 17: Nível de confiança nas promessas eleitorais dos candidatos.

Além de tentar analisar os principais motivos que influenciaram o votar ou não votar num determinado partido nas últimas eleições, o diagnóstico procurou também analisar o nível de confiança dos entrevistados/as nas promessas eleitorais dos candidatos. Num universo de 508 entrevistados/as, 77% afirmam que não acreditam nas promessas eleitorais dos candidatos e 23% afirmam que acreditam nas promessas.

Além de se procurar destacar os principais motivos pelos quais os eleitores votam ou não num determinado partido, tem-se o propósito de averiguar o nível de confiança dos mesmos nas promessas dos candidatos às eleições. Por esse motivo, foram entrevistados 508 votantes, 77% assumiram que não acreditam nos discursos dos candidatos e 23% confiam em suas promessas.

Durante o grupo focal, a opinião dos participantes não foi muito divergente, a falta de confiança nas promessas que recebem por parte dos candidatos e partidos durante o período de campanha eleitoral foi manifesta na voz de um dos participantes:

«(…) há muitas promessas que nós consideramos falsas. Por exemplo, quando um candidato à Presidência da República promete fazer coisas no lugar do governo. Sabemos que existe separação de poderes, o presidente não pode colocar-se no lugar de governo. E muitos também fazem promessas que não correspondem com o tempo que vão estar no poder, por exemplo, prometer alcatroar toda a cidade de Bafatá, ou dizer que vai construir toda a cidade em 4 anos. A Guiné-Bissau tem muitos problemas a serem resolvidos e um deles é o analfabetismo. É desse ponto de vulnerabilidade e ignorância que os partidos e candidatos se aproveitam para garantirem o impossível à população, que, por sua vez, lhes aplaude (…)».

Participante no. 3 no grupo focal em Bafatá. • Entrevista de grupo focal • 2022-07-26

Os participantes não têm dúvidas que, geralmente, isso acontece porque os partidos e candidatos, frequentemente, durante o período de campanha eleitoral não apresentam aos eleitorados programas escritos que possam respaldar aquilo que, eventualmente, poderão realizar caso forem eleitos.

Por isso, um dos participantes foi categórico em afirmar que:

(…) nenhum político da Guiné-Bissau consegue honrar seu
compromisso por causa de vários fatores: primeiro temos que condicionar partidos a apresentarem programas antes de irem para eleição porque maioria de partidos que concorrem não têm programa. Passam tempo todo a enganar o povo, porque este até a data presente não conhece seus direitos e deveres (…).

Participante no. 8 no grupo focal em Bafatá • Entrevista de grupo focal • 2022-07-26

Nas observações dos participantes, os políticos aproveitam-se das limitações dos eleitores para conduzi-los a votar neles, mesmo tendo ciência de que não irão cumprir sequer 10% do prometido. Também lamentaram a falta de investimento em novas infraestruturas, as existentes na cidade são do período colonial, sobretudo rodoviárias; a falta de fornecimento de energia elétrica, a precariedade na saúde e educação e o alto índice de desemprego local.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 18: Motivos para acreditar nas promessas eleitorais dos candidatos.

Portanto, segundo o gráfico 18 os entrevistados que afirmam que acreditam nas promessas eleitorais dos candidatos nas últimas eleições, 11% afirmam ter confiança no candidato, 7% afirmam que o candidato apresentou um bom programa de Governo e 6% afirmam que ele tem compromisso com o povo guineense.

Portanto, no gráfico 18, nota-se que 11% dos votantes inquiridos depositam confiança no seu candidato, 7% confirmam que o candidato apresentou um bom programa de governo e 6% garantem comprometimento do seu candidato com o povo guineense.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 19: Motivos para não acreditar nas promessas eleitorais dos candidatos.

Entretanto, os/as entrevistados/as que não acreditam nas promessas do candidato nas eleições passadas, 19% afirmam que não acreditaram porque não confiam no candidato e 62% afirmam que o candidato não cumpriu com as promessas da campanha anterior.

Por outro lado, 19% dos votantes desacreditam no seu candidato e 62% apontam incoerência nos seus discursos, incumprimentos.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 20: Processo democrático.

Quando questionados/as sobre o processo democrático do pais, num universo de 508 entrevistados/as, 60% afirmam que a democracia serve para a paz e justiça social e 29% afirmam que a democracia serve para o desenvolvimento do pais.

Apesar de terem manifestado falta de confiança nas constantes promessas que têm recebido por parte dos partidos e candidatos, acreditam que a democracia, quando muito bem exercida, pode ser um instrumento fundamental para a construção do bem-estar coletivo. Nesse sentido, quando questionados sobre o processo democrático no país, num universo de 508 eleitores entrevistados, 60% apoiaram a tese de que a democracia serve para a paz e justiça social e 29% acreditam que a democracia serve para o desenvolvimento do país. Ou seja, não houve dúvidas que a paz e justiça social é seguramente a condição essencial para garantir o desenvolvimento do país e, consequentemente, a estabilidade democrática.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 21: Significado do período da campanha eleitoral para o público-alvo.

De acordo com o gráfico 21, 75% dos entrevistados/as afirmam que o período da campanha eleitoral é uma oportunidade para apresentar as preocupações da comunidade, 14% responderam que o período da campanha eleitoral significa conflitos entre famílias e pessoas na tabanca e 9% afirmaram que significa disputa religiosa entre cristãos e muçulmanos.

Conforme o gráfico 21, os eleitores foram solicitados a opinarem sobre suas compreensões em relação ao período da campanha eleitoral. Pode se notar que 75% afirmaram que o período da campanha eleitoral é uma oportunidade para apresentar as preocupações da comunidade. Por outro lado, 14% argumentaram que o período da campanha eleitoral tem-se traduzido em momentos de conflitos entre famílias e pessoas na tabanca e, por fim, 9% dos inquiridos ressaltaram que o momento significa disputa religiosa entre cristãos e muçulmanos. O que deveria ser um período em que os partidos e candidatos trazem à luz os seus projetos de governação aos eleitores, passou a ser um momento de conflitos com altas probabilidades de perturbar a boa convivência social.

Em um desses encontros do grupo focal, foi dado muita enfase a essa emergente tensão política e social, como se pode observar na fala de um dos participantes:

«É verdade que muitos conflitos, entre vizinhos e famílias, surgem no momento de campanha política, tanto nas tabancas, como nos locais de serviços. Contudo, devemos lutar para que isso acabe. Percebe-se que quando uma pessoa e o seu vizinho apoiam partidos diferentes, logo se declaram inimigos. Deixam de ter a política de boa convivência entre vizinhos. Não se ajudam mais. Proíbem até os seus filhos de brincarem. No local de serviço, se você não pertence ao partido no poder, mesmo sendo muito competente e merecedor de exercer um determinado cargo, não irá assumir nenhuma posição considerada alta e sequer poderá fazer parte da direção. Na democracia não deve haver parte A ou parte B.»

Participante no.10 no grupo focal em Bafatá. • Entrevista de grupo focal • 2022-07-26

Outros aspetos de conflitos narrados pelos eleitores se relacionam aos problemas de cunho étnico e religioso que surgem nos momentos da campanha política e que os participantes asseguram que se não forem tomadas medidas de forma a inibir esses atos de radicalismo, étnico e religioso, esses distúrbios poderão se agravar e se enraizar na sociedade guineense.

Todos nós devemos respeitar as nossas diferenças para não cairmos no caos. Já acompanhei briga entre deputados por causa de tribalismo e noto que estamos a caminhar para um grande perigo que, se os políticos não evitarem, poderá desencadear uma guerra civil. Mas peço a Deus para que nos livre disso. O falecido presidente havia dito para pararmos com problemas de “raça” e citou Ruanda como exemplo. Também já houve choque entre religiões que conviviam como irmãos, exemplo da celebração conjunta entre católicos e muçulmanos realizada na frente do Comité de Estado. A opção política não nos deve levar à inimizade, a escolha deve ser de cada um. Posso dizer que a própria população contribuiu bastante para esse tipo de problema, porque um simples cidadão tem acesso ao número de telefone do Presidente da República e lhe contacta simplesmente para fazer intriga. Tudo isso acontece somente na Guiné-Bissau (…).

Participante no. 8 no grupo focal em Bafatá. • Entrevista de grupo focal • 2022-07-26

Nota-se que os eleitores entrevistados não têm dúvidas quanto à essência do período da campanha eleitoral, sobre o direito de acompanhar o debate de ideias entre candidatos e a partir disso escolher livremente as melhores propostas de governação. No entanto, reforçaram ao longo dos encontros que a crescente disputa de carácter étnico-religiosa domina todo o cenário político e, infelizmente, poderá vir a complicar ainda mais a convivência social.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
Grupo 3 Bafatá

Bloco 3 – Significado e influências no ato de votar na Região de Bafatá

O terceiro bloco investiga o que o voto significa para os eleitores de Bafatá e quais fatores influenciam essa decisão. As respostas evidenciam diferentes entendimentos — escolher um programa de governo, resolver problemas concretos ou confiar numa liderança. Identificam-se também as forças que moldam a escolha: familiares, redes comunitárias ou lideranças locais. O estudo regista ainda relatos de pressões e ofertas de bens, apontando os beneficiários e o impacto dessas práticas. Ao observar essas dinâmicas, percebe-se como condições socioeconómicas e relações de poder interferem na autonomia do voto e, por consequência, na qualidade do processo democrático.

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Gráfico 22: Significado do ato de votar para o público-alvo.

O estudo também procurou entender o que significa o ato de votar para o público-alvo, assim sendo num universo de 508 entrevistados, 7% afirmam que o ato de votar significa eleger o/a candidato/a da etnia em que pertence.

Nesta parte, destaca-se a influência sobre os eleitores na hora de votar. Ou seja, a que ponto eles são conscientes e livres para decidirem os seus votos, sem se deixarem influenciar pela escolha de terceiros. Entretanto, num universo de 508 entrevistados, 90% não souberam responder a questão e 7% defenderam que o ato de votar significa eleger o candidato da etnia a qual pertencem.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 23: Outros significados do ato de votar para o público-alvo.

A opção candidato com um programa para o desenvolvimento aparece representado por 13%, ou seja 13% dos entrevistados afirmam que para eles o ato de votar significa eleger o candidato que tem um programa pautado no desenvolvimento do pais.

Assim como na questão anterior, nessa também os eleitores entrevistados tiveram dificuldades para evocar razões que os levam a votar num determinado candidato ou partido. Sobre essa questão, apenas 13% dos entrevistados sustentaram a tese de que votar significa sufragar o candidato do partido que tem um programa pautado no desenvolvimento do país. Uma maior percentagem, 82%, não soube responder.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 24: Motivos que justifica o ato de votar.

Segundo o gráfico 24, 97% dos entrevistados/as afirmam que votaram nas eleições passadas porque viram num candidato uma oportunidade de resolver os diferentes problemas que o pais enfrenta.

À luz do gráfico 24, os entrevistados apresentaram os reais motivos pelos quais votam. Nessa lista, 97% dos inquiridos assumiram que votam com o intuito de eleger um bom candidato, que possa resolver os problemas que o país enfrenta. Votar, com esse propósito, demonstra que minimamente entendem que não se deve votar pensando em resolver assuntos pessoais, mas do coletivo, que cabe a cada um fazer a sua escolha de maneira autónoma e responsável.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 25: Influências na hora de escolher o partido.

Em relação a orientação na hora de votar, das respostas obtidas percebe-se com o gráfico 25 que as respostas não alcançaram significância.

Partindo do princípio da autonomia que os eleitores deveriam gozar na hora de decidir em quem votar, os entrevistados foram questionados sobre suas orientações no momento de voto e, conforme se pode ver gráfico 25, as respostas não alcançaram significância.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 26: Influências na hora de escolher o partido.

Em relação a orientação na hora de votar, das respostas obtidas percebe-se com o gráfico 26 que as respostas não alcançaram significância.

Assim como na questão anterior, os eleitores mantiveram a mesma postura em relação ao gráfico 26, as respostas, igualmente, não tiveram relevância.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 27: Influências na hora de escolher o partido.

Em relação a orientação na hora de votar, das respostas obtidas percebe-se com o gráfico 27 que as respostas não alcançaram significância.

De igual modo, também não reconheceram a existência de mecanismos coercitivos tradicionais, conforme o gráfico 27. No que diz respeito as suas decisões de voto, as respostas obtidas não alcançaram significância.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 28: Bens para angariar votos.

Além de serem influenciados de alguma forma, os entrevistados/as afirmam (88%) que os partidos e os candidatos oferecem bens materiais para angariar voto nas comunidades.

Apesar de não admitirem alguma influência nas suas decisões de voto, 88% dos eleitores entrevistados confirmaram que os partidos e candidatos disponibilizam bens materiais para angariar voto nas comunidades.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 29: Os bens oferecidos para angariar votos.

Segundo o gráfico 29, os bens oferecidos para angariar votos nas comunidades são: cadeiras de plástico (16%), arroz (17), dinheiro (14%), camisolas (19%) e motorizado (14%).

Consoante o gráfico 29, conseguiram ainda enumerar os principais bens disponibilizados para angariar votos nas comunidades, conforme se segue: 16% consideraram que eram cadeiras de plástico, 17% o arroz, 14% o dinheiro, 19% as camisolas e 14% as motorizadas.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 30: Os beneficiários dos bens oferecidos.

Os principais beneficiários, segundo os entrevistados/as são: a comunidade (22%), as associações de mulheres (26%), as associações de jovens (24%) e ou o responsável local do partido (6%).

Entretanto, não só recordaram alguns bens que eram colocados à disposição da comunidade, como também conseguiram fazer o mapeamento dos principais beneficiários. Nas suas observações, 22% concluíram que é a comunidade, 26% consideram que são as associações de mulheres, 24% afirmam que são as associações de jovens e apenas 6% consideram que são os responsáveis locais dos partidos. Nessa parte, ficou evidente o não reconhecimento, por parte de eleitores entrevistados da influência de terceiros ou do uso de mecanismos coercitivos no momento do voto. Contraditoriamente, admitiram a disponibilização de bens materiais e dinheiro durante o período da campanha eleitoral na comunidade com o propósito de influenciar a decisão dos eleitores.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
Grupo 4 Bafatá

Bloco 4 – Requisitos e perceções sobre a democracia na Região de Bafatá

Este último bloco reúne as perceções da população de Bafatá sobre quem deve governar e como a democracia funciona. Muitos defendem um nível mínimo de escolaridade para deputados e governantes, associando-o à capacidade de legislar com eficácia e de compreender os problemas do país. A confiança nas instituições e a satisfação com o desempenho democrático variam conforme as experiências individuais. Sobre mulheres e jovens em cargos de decisão, destaca-se o reconhecimento das suas competências, mas também a persistência de barreiras culturais e políticas. Ao final, os entrevistados comentam o próprio inquérito, reforçando a importância de serem ouvidos.

regional

Gráfico 31: Nível de escolaridade mínima para deputados e governantes.

Quando questionados/as sobre a importância da escolaridade mínima para deputados e governantes, os entrevistados/as afirmam que sim (97%) deveria haver um nível de escolaridade mínima para deputados e governantes.

Essa parte traz observações interessantes sobre o nível de confiança dos eleitores em relação aos eleitos e sobre as suas perceções quanto ao papel das instituições desempenham no processo democrático no país. Será que, enquanto cidadãos devemos ter o direito de ocupar responsabilidades públicas independentemente do nosso nível de preparo? Temos ou não a obrigação de nos preparar antes de procurar assumir um compromisso público? Sobre esse assunto, os eleitores não omitem a importância da escolaridade e 97% consideram que deveria ser legalmente fixado um nível mínimo de escolaridade para o acesso a esses cargos, conforme se vê no gráfico 31.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 32: Motivos para haver um nível de escolaridade mínima para deputados e governantes

De acordo com o gráfico 32, os entrevistados afirmam que é importante haver um nível de escolaridade mínima para deputados e governantes porque assim é possivel contribuir melhor no desenvolvimento do pais (75%) e poder governar melhor (19%).

Conforme o gráfico 32, 75% dos eleitores entrevistados justificam suas opiniões afirmando que o nível de escolaridade mínima para deputados e membros do governo pode contribuir para melhorar o desenvolvimento do país, enquanto na mesma linha, 19% consideram que isso lhes concederia a capacidade de governar melhor.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 33: Nível de satisfação com o desempenho democrático no pais.

Analisando o gráfico 33, se percebe que 58% dos entrevistos/as afirmam que o desempenho democrático no pais é mau e 40% afirmaram que o desempenho democrático é bom.

A insatisfação com o desempenho democrático também se manifestou na perda de confiança dos eleitores nas instituições do país. O contexto de fragilidade democrática e vulnerabilidade institucional certamente são aspetos que têm reforçado a descrença. Nas observações dos eleitores entrevistados, 58% avaliam o desempenho democrático no país como ruim. Contudo 40% dos eleitores entrevistados manifestaram satisfação com o desempenho democrático. O gráfico 33 apresenta o nível de satisfação dos eleitores, e com apenas 2% que não souberam responder.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 34: Instituições do pais que inspira mais confiança.

Em relação a confiança que as instituições do país transmitem, a Liga Guineense dos Direitos Humanos aparece em primeiro lugar, representado por 28%, segundo os/as entrevistados/as. Em seguida aparece a Presidência (19%) e depois a força de defesa (11%).

Entretanto, em relação à confiança que as instituições do país transmitem, a organização da sociedade civil, representada pela Liga Guineense dos Direitos Humanos, aparece como a mais credível, com 28%. Porém essa baixa confiança parece ter gerado alguma inquietação, supostamente motivada pela descrença da maioria dos eleitores entrevistados nas organizações da sociedade civil. Em seguida, com 19%, aparece a Presidência da República e, por fim, as forças de defesa, com 11%.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 35: Oportunidade para as mulheres e jovens para assumir cargos políticos.

De acordo com o gráfico 35, verifica-se que 98% dos entrevistados afirmam que deviam começar a dar oportunidades as mulheres e jovens para assumir cargos políticos e 2% afirmam que não.

Sobre a participação de mulheres e jovens nas esferas de tomada de decisão, conforme o gráfico 35, 98% dos entrevistados não têm dúvidas de que esses grupos sociais merecem a oportunidade para assumir cargos políticos, enquanto 2% defendem opinião contrária.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 36: Processo do voto na Guiné-Bissau

Com relação ao processo de voto no pais, 56% dos/as entrevistados/as afirmam que falta transparência ao longo do processo, 17% afirmam que existe atraso na divulgação dos resultados e 9% afirmam que são cometidas fraudes nos resultados.

A forma como tem sido organizada o processo eleitoral merece a preocupação dos eleitores e 56% apontam a falta de transparência no processo de voto no país, 17% afirmam que existe atraso na divulgação dos resultados eleitorais, e 9% consideram que são cometidas fraudes nos resultados.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 37: Opinião sobre o inquérito.

De acordo com o gráfico 37, 100% dos/as entrevistados/as acreditam serem importantes as questões colocadas no inquérito.

Em termos de balanço sobre a participação no estudo, segundo o gráfico 37, 100% dos eleitores entrevistados consideram as questões colocadas no inquérito importantes. Os encontros proporcionaram, aos participantes, reflexão sobre a importância dos seus votos e, consequentemente, da democracia no desenvolvimento do país.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.