Sentido do voto na Região de Gabú

Regional 20/07/2022 — 31/10/2022 Região de Gabú, Sector de Gabú, Setor de Boé, Setor de Pirada, Setor de Pitche, Setor de Sonaco

A região de Gabú, no leste da Guiné-Bissau, elege 14 deputados e reflete a predominância das etnias Fula e Mandinga. Com forte presença islâmica e economia baseada na agricultura e no comércio, os eleitores valorizam o voto como instrumento de mudança, exigindo mais transparência e maior inclusão de mulheres e jovens.

Eleitores 2018
97.414
Questionários
489
Meta %
0,5 %
Grupo 1 Gabú

1. PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E SOCIOECONÔMICO

Situada no leste do país, a região de Gabú abrange cinco setores e constitui um dos maiores colégios eleitorais, elegendo 14 deputados. Entre os 489 inquiridos, predominam as etnias Fula e Mandinga, refletindo a forte presença islâmica (85%). A faixa etária mais representada situa-se entre 30 e 49 anos, revelando uma população relativamente jovem e ativa. Contudo, nota-se desequilíbrio de género, com apenas 39% de participação feminina. A maioria é casada segundo costumes tradicionais e vive em agregados pequenos. O nível de escolaridade é intermédio, embora persista analfabetismo. A agricultura, o comércio e, em menor escala, o setor público estruturam a economia local.

regional

Gráfico 1: Etnias do público-alvo.

Segundo o gráfico 1, a etnia predominante entre os/as entrevistados/as no estudo na região de Gabu é a etnia Fula, representada por 63%.

Assim como Bafatá, a região de Gabu, devido à sua dimensão socioeconómica, também abriga uma parte importante do mosaico étnico que constitui a sociedade guineense. Segundo o gráfico 1, a etnia predominante entre os eleitores entrevistados é a Fula, com 63%, seguida pela Mandinga, com 20%.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 2: Faixa etária

A faixa etária dos entrevistados/as nessa região se encontra entre os 40-49 anos, representada por 25%, em seguida a faixa dos 30 a 39 anos, representada por 24%.

Entre os eleitores entrevistados nessa região, a faixa etária predominante está entre 40 e 49 anos, que representa 25%, em seguida a dos 30 a 39 anos, que representa 24%. Ou seja, trata-se de uma faixa etária relativamente jovem, propensa a acompanhar as dinâmicas sociais e políticas do país.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 3: Sexo do público-alvo do estudo.

Num universo de 489 entrevistados/as na região de Gabu, 39% foram do sexo feminino e 61% do sexo masculino.

Em uma pesquisa com 489 eleitores entrevistados na região de Gabu, observou-se um desequilíbrio significativo na participação por género: 39% eram do sexo feminino e 61% homens.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 4: Religião dos entrevistados.

A religião predominante entre os/as entrevistados/as nessa região é a Muçulmana, representada por 85%.

Naturalmente, a predominância de dois grupos étnicos islamizados entre os eleitores entrevistados corresponde ao peso que a religião muçulmana representa na região, que é de 85%, conforme o gráfico 4.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 5: Estado civil dos entrevistados.

No que diz respeito ao estado civil dos/as entrevistados/as, constatou-se que 73% são casados (as), 21% são solteiros (as), 1% são divorciados (as) e 5% são viúvos (as).

Em relação ao estado civil dos eleitores entrevistados, constatou-se que 73% são casados, 21% solteiros, 1% divorciados e 5% viúvos.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 6: Tipos de casamento do público-alvo.

Entre os casados, o tipo de casamento predominante é o casamento de usos e costumes, representado por 92%.

Entre os eleitores casados, a celebração baseia-se nos usos e costumes de cada etnia e representa 92%.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 7: Capacidade eleitoral

Quando questionados/as sobre a capacidade eleitoral do agregado familiar, 74% afirmam que no agregado menos de 10 pessoas podem votar e 26% afirmam que no agregado mais de que 10 podem votar.

Praticamente todos os eleitores questionados têm alguém no seu núcleo familiar com a capacidade eleitoral. Em respostas obtidas, 74% admitem que seu núcleo familiar possui menos de 10 pessoas com capacidade eleitoral, enquanto apenas 26% afirmam que possui mais de 10.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 8: Nível de escolaridade.

De acordo com o gráfico 8, o nível de escolaridade predominante entre os/as entrevistados/as na região de Quinara é o nível de escolaridade entre 7ª – 9ª classe, representado por 21% em seguida o nível entre 1.ª – 4ª classe, representado por 20%. E ainda se nota que 13% dos entrevistados/as não sabem ler e nem escrever.

Segundo o gráfico 8, o nível de escolaridade predominante entre os eleitores entrevistados na região de Gabu é o de 7ª a 9ª classe, representando 21%. Em seguida, destaca-se o nível de 1.ª a 4ª classe, com 20%. Adicionalmente, observa-se que 13% dos eleitores entrevistados são analfabetos.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 9: Fonte de receita.

Outro aspeto relevante que o estudo buscou ilucidar são dominios de atividades laborais dos/as entrevistados/as. Num universo de 489 entrevistados/as, 48% são agricultores/as, 11% trabalham no setor privado, 15% no setor público e 26% são comerciantes.

Outro aspeto relevante que o estudo buscou elucidar são os domínios de atividades laborais dos eleitores entrevistados. Num universo de 489 entrevistados, 48% são agricultores, 11% trabalham no setor privado, 15% no setor público e 26% são comerciantes. De modo geral, os dados indicam que se trata de cidadãos com ocupação que, direta ou indiretamente, têm contribuído para o processo de desenvolvimento socioeconómico do país. Esta parte introdutória sintetiza o quadro de informações sobre eleitores da região de Gabú e suas experiências sobre o processo eleitoral.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
Grupo 2 Gabú

1.2. PERFIL SOBRE A CONFIANÇA NOS CANDIDATOS/AS

Em Gabú, os eleitores acumulam experiência em diferentes eleições, mas revelam frustração com promessas não cumpridas. A confiança nos partidos divide-se: uns mantêm fidelidade, outros mudam de opção conforme o desempenho. Nos grupos focais, destacou-se a proliferação de promessas vazias e a mercantilização do voto, o que mina a credibilidade democrática. Apesar da desconfiança, muitos reconhecem o valor da democracia como espaço de paz e desenvolvimento, defendendo que os cidadãos devem exigir mais responsabilidade dos candidatos.

regional

Gráfico 10: Nº de vezes que o público-alvo já votou.

Quando questionadas/os quantas vezes já votaram, percebe-se que num universo de 489 entrevistadas/os, 36% assumem que já votaram pelo menos 5 vezes e 17% pelo menos 3 vezes.

Procurou-se observar o nível de confiança dos eleitores nos candidatos, sobretudo o que os leva a votar ou não em determinados candidatos ou partidos. Questionados sobre quantas vezes já votaram, percebeu-se que, num universo de 489 eleitores entrevistados, 36% declaram ter votado pelo menos 5 vezes, enquanto 17% por 3 vezes.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 11: Votação nas eleições gerais.

Em relação a participação nas eleições realizadas no país, percebe-se que 27% afirmam ter votado nas eleições gerais em 1994, 14% nas eleições de 1999, 14 % nas eleições gerais de 2014 e 45% nas eleições gerais de 2019.

Em relação à participação nas eleições gerais realizadas no país, percebe-se que 27% afirmam terem votado nas eleições gerais de 1994, 14% nas de 1999, 14 % nas de 2014.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 12: Votação nas legislativas.

Em relação ao número de vezes que os entrevistados/as votaram nas eleições legislativas passadas, 27% afirmam ter votado pelo menos 5 vezes.

Em relação ao número de vezes que os eleitores entrevistados votaram nas eleições legislativas, 27% alegam ter votado pelo menos 5 vezes. Apesar de alguma fragmentação na participação, pode-se reconhecer que uma parcela significativa possui conhecimento sobre o processo eleitoral.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 13: Eleições presidenciais.

E nas eleições presidenciais passadas, 35% dos entrevistados/as afirmam ter votado pelo menos 5 vez nas eleições presidenciais.

Já em relação as eleições presidenciais, 35% dos eleitores entrevistados afirmam terem votado pelo menos 5 vezes, mas conforme o gráfico 13, ainda é possível ver que os eleitores tiveram uma participação equilibrada ao longo do processo.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 14: Nível de confiança no partido.

Durante o diagnostico também foi possível medir o nível de confiança que os entrevistados/as possuem em relação ao partido. Segundo o gráfico 14, verifica-se que 53% afirmam que não votam sempre no mesmo partido enquanto 47% afirmam que sim tem votado sempre no mesmo partido.

Durante o estudo também foi possível medir o nível de confiança que os eleitores entrevistados possuem em relação aos partidos. Segundo o gráfico 14, verifica-se que 53% sustentam que não votam sempre no mesmo partido, enquanto 47% sustentam que têm votado sempre no mesmo partido. O comportamento dos eleitores em Bafatá e Gabu são quase similares em termos de confiança que estabelecem com os partidos e candidatos, basta comparar o percentual de nível de confiança. Ou seja, os dados apresentam um grupo minoritário que é volátil na sua decisão de voto, enquanto outro tem uma decisão de fidelidade partidária em termos de decisão de voto.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 15: Motivos para votar no mesmo partido.

E os principais motivos de terem votado sempre no mesmo partido são: confiança no partido (25%), confiança no programa de Governo (38%) e por militância (37%).

Sobre motivos que os levam a votar sempre no mesmo partido, 25% consideram a confiança como um dos fatores, 38% justificam a confiança no programa de governo, enquanto 37% apontam a militância como elemento de fundo.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 16: Motivos para não votar no mesmo partido.

E os/as entrevistados/as que afirmam que não votaram no mesmo partido nas últimas eleições pelos seguintes motivos: não cumpriu as promessas da campanha anterior (25%), a falta de confiança no partido (38%) e mudança de partido que apoia (37%).

Os dados praticamente são iguais em relação aos eleitores entrevistados que têm tido uma postura mais critica em termos de decisão de seus votos. Portanto, nas suas opiniões, 25% asseguram que não votam sempre no mesmo partido por este não cumprir com as promessas da campanha anterior, enquanto 38% consideram a falta de confiança e 37% justificam a mudança de militância partidária como causa de mudança na decisão de voto.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 17: Nível de confiança nas promessas eleitorais dos candidatos nas eleições passadas.

Além de tentar analisar os principais motivos que influenciaram o votar ou não votar num determinado partido nas últimas eleições, o diagnostico procurou também analisar o nível de confiança dos entrevistados/as nas promessas eleitorais dos/das candidatos/as na região de Gabu. Num universo de 489 entrevistados/as, 83% afirmam que não acreditaram nas promessas eleitorais dos candidatos e 17% afirmam acreditar nas promessas.

Além de tentar observar os principais motivos que influenciam o compromisso de votar ou não num determinado partido, o estudo procurou também perceber o nível de confiança dos eleitores entrevistados nas promessas eleitorais. E num universo de 489 eleitores entrevistados, 83% desacreditam nas promessas eleitorais dos candidatos e apenas 17% têm opinião contrária.

Essa falta de confiança nas promessas feitas pelos partidos e candidatos ficou expressa nas contribuições dos participantes do grupo focal. E um dos participantes narrou o facto nesses termos:

Recordo-me de um político que, após assumir o poder, declarou que as promessas feitas durante a campanha ficaram na campanha. Atualmente, a única promessa que se cumpre é a submissão a uma única pessoa. Registam-se promessas como a do dia 5 de fevereiro para o início da construção da estrada em Gabu, a promessa sobre a castanha de caju, a do cheque, a do novo aeroporto, entre muitas outras. Embora se possa afirmar que a cidade de Gabu tem hoje ruas mais bem projetadas, a realidade é que as estradas estão em más condições, a ponto de se poder imaginar que até peixes se apanhariam nas poças, os salários foram reduzidos e atualmente não é possível fazer compras no mercado com 2000 cfa. Conclui-se que nenhuma promessa é cumprida na Guiné-Bissau e que, de forma geral, as campanhas eleitorais são momentos de fazer promessas que não se concretizam.

Participante no. 4 no grupo focal em Gabu. • Entrevista de grupo focal • 2022-07-22

Todavia, os participantes do grupo focal não reconheceram apenas a desonestidade dos políticos na sua estratégia de caça ao voto durante o período da campanha eleitoral, como também denunciaram o comportamento errado de eleitores, sobretudo, de chefes de família que procuram negociar seu voto e o da sua família.

Para um dos participantes isso acontece porque:

Muitos eleitores não se preocupam em analisar previamente as propostas dos políticos que procuram seus votos. Preferem negociar seus votos para garantir o sustento familiar, sem avaliar se as promessas feitas são realistas. Grande parte dos compromissos assumidos não pode ser cumprida em quatro ou cinco anos de mandato. Os partidos, por sua vez, frequentemente influenciam eleitores que depois pressionam os familiares a votarem nos candidatos com os quais firmaram acordos. Novamente em período eleitoral, aplaudimos discursos e negociarmos votos sem conhecer os programas de governação. É necessário aceitar certos sacrifícios para votar com consciência e compreender que quatro anos de mandato representam um período significativo. Desde 1994, quantos governantes efetivamente cumpriram seus mandatos integralmente? Essa realidade demonstra uma fragilidade no exercício pleno da democracia.

articipante no. 10 no grupo focal em Gabu. • Entrevista de grupo focal • 2022-07-22

Entretanto, alguns participantes procuram encontrar explicações dessa desonestidade na plurifunção partidária face a situação do analfabetismo:

(…) quando há muitos partidos, as mentiras também são muitas. Na Guiné-Bissau não há justiça. Os políticos mentem no momento de pedir voto e, ao vencerem, não cumprem com as promessas e sequer admitem ao povo manifestar a sua indignação. (...) a Guiné-Bissau tem mais de 60% da população analfabeta e são esses mesmos analfabetos que votam (…).

Resumo próprio do consenso durante a entrevista do grupo focal • Entrevista de grupo focal • 2022-07-22

Em quase todas as intervenções, ficou registada a preocupação dos participantes face as incoerências dos partidos e candidatos durante o período da campanha eleitoral.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 18: Motivos para acreditar nas promessas eleitorais dos candidatos nas eleições passadas.

Portanto, segundo o gráfico 18, os/as entrevistados/as que afirmam acreditar nas promessas eleitorais dos/as candidatos/as nas últimas eleições, 34% afirmam ter confiança no candidato, 29% afirmam que o candidato apresentou um bom programa de Governo e 36% o candidato cumpriu com as promessas eleitorais.

Vale mencionar que muitos votantes acreditam nas promessas dos candidatos. Nesse grupo, 34% assumem essa postura porque confiam no candidato, 29% porque o mesmo apresentou um bom programa de governo e 36% porque o candidato cumpriu com as promessas anteriores.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 19: Motivos para não acreditar nas promessas eleitorais dos candidatos nas eleições passadas.

Entretanto, dos/as entrevistados/as que afirmam não acreditar nas promessas eleitorais do candidato nas eleições passadas, 20% afirmam que não acreditam porque não confiam no candidato e 66% afirmam que o candidato não cumpriu com as promessas das campanhas anteriores.

Os eleitores entrevistados ao justificarem as suas posições, relativas à descrença nos discursos dos concorrentes às eleições, 20% responderam que apenas não têm confiança no candidato, sem entrar em detalhes, enquanto 66% acrescentaram que o candidato não cumpriu com as promessas das campanhas anteriores.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 20: Processo democrático.

Quando questionados/as sobre o processo democrático do pais, num universo de 489 entrevistados/as, 69% afirmam que a democracia serve para a paz e justiça social e 31% afirmam que a democracia serve para o desenvolvimento do pais.

Embora todos tenham manifestado falta de confiança nas constantes promessas que têm recebido dos partidos e candidatos, não houve dúvidas sobre a importância da democracia para um país. Nesse sentido, quando questionados sobre a utilidade do processo democrático, num universo de 489 entrevistados, 69% defenderam que a democracia pode servir para edificar a paz e justiça social, enquanto 31% apoiaram que a democracia pode alavancar o desenvolvimento do país. Ambas as opções demonstram que os eleitores entrevistados têm a compreensão da importância, mas também daquilo que a democracia é capaz de proporcionar ao desenvolvimento do país.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 21: Significado do período da campanha eleitoral para o público-alvo.

De acordo com o gráfico 21, 87% dos entrevistados/as afirmam que o período da campanha eleitoral é uma oportunidade para apresentar as preocupações da comunidade, 7% responderam que o período da campanha eleitoral significa conflitos entre famílias e pessoas na tabanca e 3% afirmam que significa conflito entre partidos e candidatos.

Conforme o gráfico 21, foram solicitados a interpretarem o período da campanha eleitoral. Em suas respostas, 87% afirmaram que o período da campanha eleitoral é uma oportunidade para apresentar as preocupações da comunidade, 7% responderam que o período da campanha eleitoral significa conflitos entre famílias e pessoas na tabanca e 3% que significa conflito entre partidos e candidatos.

Se objetivamente os eleitores entrevistados, em sua maioria, procuraram resumir o que deveria ser o sentido de uma campanha eleitoral, os participantes no grupo focal não perderam a oportunidade para apontar factos reais predominantes nessa fase e relembrar os vários conflitos sociopolíticos. Um dos participantes do grupo focal tentou mostrar a relação do político com o eleitor durante e pós-eleição:

No momento da campanha, os políticos são pessoas fáceis de encontrar. Nessa fase, eles se mostram sempre disponíveis. Descem e sobem de um lado para outro e quando atingem seus objetivos, o mesmo número de telefone deixa de existir e eles passam a ser pessoas de difícil acesso. Os seus guarda-costas não permitem a aproximação, esquecem do compromisso tomado com a população.

Participante no.4 no grupo focal em Gabu. • Entrevista de grupo focal • 2022-07-22

Numa perspetiva de um retrato comparativo, um dos participantes procurou trazer a reflexão sobre como era a vivência nos momentos da campanha eleitoral durante a abertura política e como a mesma evoluiu, perigosamente, nos dias de hoje:

A campanha de 1994 e atual campanha são muito diferentes. Hoje em dia, principalmente em Gabu, o que eles fazem é criar divergência entre jovens para tirar proveito e ainda introduziram problema étnico na política, que pode criar uma guerra civil. Criaram rotura entre amigos e famílias só porque não pertencem ao mesmo partido. Os políticos não se interessam pelas divergências, conflitos entre população.

Deve-se preservar o laço da união e evitar radicalismos na escolha da cor preta ou vermelha. Não há valia nisso. A eleição deveria resolver os problemas e não os criar.

Participante no.10 no grupo focal em Gabu. • Entrevista de grupo focal • 2022-07-22

Todavia, entre as contribuições dos participantes, também houve avaliação positiva relativamente ao comportamento dos diferentes grupos políticos e seus apoiantes durante o período da campanha eleitoral, quando comparado com o que acontece noutros lugares do continente. Um dos participantes ressaltou o seguinte:

(…) é positivo o relacionamento na campanha, em comparação com outros países, sobretudo quando dois partidos se encontram. Por exemplo, falar da religião cria muitos problemas. Eu sou muçulmana, e quando alguém insulta os muçulmanos, isso me choca. Se não for o caso, aqui é fácil ver candidatos de diferentes partidos políticos sentados num bar a divertir, cada um usando a camisola do seu partido.

Participante no.3 no grupo focal em Gabu. • Entrevista de grupo focal • 2022-07-22

Essas leituras expressam a coerência dos eleitores em termos de observação das dinâmicas do processo, mas, particularmente, da campanha eleitoral. Apesar de apontarem situações de risco, reconhecem a ausência do extremismo, sobretudo quando os adversários e seus apoiantes se encontram em algum ponto durante a campanha e partilham o mesmo espaço sem qualquer tipo de violência.

No geral, os participantes observaram o período da campanha eleitoral com uma visível preocupação pela forma como os partidos e candidatos estão a influenciar, direta ou indiretamente, as crispações sociais que podem ter impactos na coesão social e religiosa.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
Grupo 3 Gabú

1.3. PERFIL SOBRE A INFLUÊNCIA NO ATO DE VOTAR

Para a maioria em Gabú, votar significa escolher programas de desenvolvimento ou partidos que transmitam confiança. Embora muitos afirmem decidir de forma autónoma, surgem pressões familiares, comunitárias e religiosas, bem como tentativas de compra de votos. Jovens, mulheres e líderes locais são alvos frequentes de bens materiais ou promessas. Nos debates, também apareceram relatos de intimidação dentro das famílias. Apesar disso, os eleitores insistem que o voto deve ser livre e pessoal, expressando uma tensão constante entre autonomia e condicionamentos externos.

regional

Gráfico 22: Significado do ato de votar para o público-alvo.

O estudo também procurou entender o que significa o ato de votar para o público-alvo na região de Gabu. Assim sendo, num universo de 489 entrevistados/as, 46% afirmam que para eles o ato de votar significa eleger o candidato com melhor Programa de desenvolvimento 39% afirmam que significa escolher o partido que transmite confiança.

Nessa parte procurou-se analisar as influências que os eleitores sofrem na hora de votar. Ou seja, até que ponto eles são ou não autónomos para decidirem em quem votar sem se deixarem influenciar por terceiros. Procurou-se, de igual modo, contemplar os eleitores da região de Gabu e suas dinâmicas de voto. Assim sendo, num universo de 489 eleitores inquiridos, 46% apoiaram a tese de que votar significa eleger o candidato com melhor programa de desenvolvimento e 39% confirmaram que votar significa escolher o partido que transmite confiança.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
nacional

Gráfico 23: Motivos que justifica o ato de votar.

Segundo o gráfico 23, 94% dos entrevistados/as afirmam que votaram nas eleições passadas porque viram no candidato uma oportunidade de resolver os diferentes problemas que o país enfrenta.

Os eleitores entrevistados demonstraram saber por que são chamados a votar. Segundo o gráfico 23, 94% dos inquiridos votam nas eleições com o propósito de contribuir para resolver os problemas que o país enfrenta. Teoricamente ficou evidente que a maioria sabe que o ato de votar tem como fundamento criar condições para atender as demandas estruturais do país e que as mesmas devem refletir na vida dos cidadãos. É praticamente insignificante a opção que considera o ato de votar como uma oportunidade para resolver problemas pessoais.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
nacional

Gráfico 24: Influências na hora de escolher o partido. A sua orientação de voto vem por parte de:

Em relação a orientação na hora de votar, das respostas obtidas, os entrevistados/as afirmam que a orientação do voto vem por parte do marido (7%). Das respostas obtidas percebe-se com o gráfico 24 que as respostas não alcançaram significância.

Relativo à orientação na hora de votar, das respostas obtidas, 7% dos eleitores entrevistados sustentaram que a camada feminina quase sempre é guiada pelo marido no ato do voto. Das respostas obtidas percebe-se, no gráfico 24, que não alcançaram significância.

Em termos gerais, notou-se um certo desconforto por parte dos eleitores entrevistados em responder com sinceridade essa questão. Mas, por conseguinte, no grupo focal os participantes sempre procuraram trazer manifestações de como a situação do direito a voto é encarada no seio familiar e comunitário. Na sua intervenção, um dos participantes retratou o ambiente vivenciado da seguinte maneira:

(…) conheço muita gente que obriga a sua mulher e filhos a votar em determinado candidato. Ambos, por receio de serem expulsos ou proibidos de comer em casa, simplesmente obedecem. Se tudo isso está a acontecer é porque estamos com falta de meio para enviar nossos filhos para escola.

Participante no. 10 no grupo focal em Gabu. • Entrevista de grupo focal • 2022-07-22

Outro facto narrado que aponta para uma dimensão que tenta explorar origens identitárias e/ou opção religiosa como mecanismo de manipulação em massa foi levantado na preocupação de um dos participantes quando explicou que:

Na eleição passada houve um fenómeno muito perigoso que nasceu na região de Gabu. Os fulas diziam: ankala ide horema, que significa, você deve gostar mesmo de si mesmo, enquanto os mandingas diziam: nhô fassa, significando abraçar uns aos outros.

Participante no. 4 no grupo focal em Gabu. • Entrevista de grupo focal • 2022-07-22

Vale mencionar que esse radicalismo na abordagem de mobilizar voto não é o caso específico apenas da região de Gabu. O assunto além de transversal se nos apresenta delicado no seio comunitário e, em muitas localidades, percebe-se que os eleitores se sentem inibidos e preferem não falar para não denunciar aquilo que consideram sigilo.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 25: Influências na hora de escolher o partido. A sua orientação de voto é:

Entretanto, dos que não escolheram as opções acimas, 70% afirmaram que orientação de voto é pessoal.

Por não admitirem influência de terceiros nas suas decisões de voto, 70% confirmaram que a sua decisão de voto é pessoal.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 26: Influências na hora de escolher o partido. A minha orientação de voto é infuenciada tambem por:

Além disso, 6% dos/as entrevistados/as afirmaram que o voto também é influenciado por praga. Das respostas obtidas percebe-se com o gráfico 24 que as respostas não alcançaram significância.

De igual modo, não reconheceram também a existência de mecanismos coercitivos tradicionais nas suas decisões de voto. Contudo, 6% dos eleitores entrevistados mencionaram a “praga” como um dos mecanismos psicológicos para influenciar eleitores. Portanto, das respostas obtidas percebe-se, no gráfico 26, que as respostas não tiveram relevância.

Etimologicamente "mandji" significa amaldiçoar alguém. Geralmente existe uma crença, sobretudo, no seio comunitário e quiça guineense de que os país têm esse poder sobre os filhos caso esses nãos os obedeçam.

Autores do estudo. • Outro
Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 27: Bens para angariar votos.

Além de serem influenciados/as de alguma forma, num universo 489 resposta em Gabu, 91% dos/as entrevistados/as afirmam que os partidos e os candidatos oferecem bens materiais para angariar voto nas comunidades.

Apesar de não admitirem a influência nas suas decisões de voto, num universo de 489 respostas, 91% dos eleitores entrevistados afirmaram que os partidos e candidatos oferecem bens materiais durante o período da campanha eleitoral para angariar votos nas comunidades.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 28: Os bens oferecidos para angariar votos.

Segundo o gráfico 28, os bens oferecidos para angariar votos nas comunidades são: motorizado (19%), camisolas (19%), arroz (11%), dinheiro (17%) e roupa (15).

No gráfico 28, os eleitores listaram os produtos ou materiais disponibilizados para angariar votos nas comunidades. Entre os mesmos, as motorizadas aparecem 19%, as camisolas igualmente com 19%, o arroz com 11%, dinheiro com 17% e as roupas com 15%.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 29: Os beneficiários dos bens oferecidos.

Os principais beneficiários, segundo os/as entrevistados/as são: a comunidade (18%), o responsável local do partido (17%), chefe de tabanca (17%), associações de mulheres (19%) e ou jovens (17%).

Entre os principais beneficiários, 18% dos eleitores consideraram a comunidade, 17% apontaram o responsável local do partido, 17% ao chefe de tabanca, 19% as associações de mulheres e 17% indicaram os jovens. Vale salientar que, geralmente, os bens são distribuídos a partir de estruturas comunitárias existentes, conforme mencionado pelos eleitores. Contudo, procuram agradar cada grupo em função das especificidades de suas necessidades. Por exemplo, os jovens são quase sempre agraciados com equipamentos desportivos e aparelhos de som. As mulheres geralmente recebem materiais domésticos e panos di pinti. Por último, os homens recebem dinheiro e motorizadas.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
Grupo 4 Gabú

1.4. PERFIL SOBRE O NÍVEL DE CONFIABILIDADE DO PROCESSO DEMOCRÁTICO NO PAÍS

Em Gabú, quase todos defendem um nível mínimo de escolaridade para deputados e membros do governo, associando-o à competência, liderança e boa governação. Ainda assim, 80% classificam o desempenho democrático como mau, refletindo perda de confiança nas instituições. Apenas a Liga Guineense dos Direitos Humanos surge como referência de credibilidade, seguida pela Presidência e pela ANP. A democratização do espaço político para mulheres e jovens é amplamente apoiada, embora se reconheça que as mulheres são vistas como mais confiáveis. Persistem críticas à falta de transparência e à fraca capacitação dos agentes eleitorais, acompanhadas do apelo por mais sensibilização cívica.

regional

Gráfico 30: Nível de escolaridade mínima para deputados e governantes.

Quando questionados/as sobre a importância da escolaridade mínima para deputados e governantes, os 96% dos/as entrevistados/as afirmam que sim deveria haver um nível de escolaridade mínima para deputados e governantes.

Essa parte traz observações sobre o nível de confiança dos eleitores em relação aos eleitos, sobretudo no que diz respeito aos seus níveis de preparo e visão sobre o desempenho democrático no país. Em relação à importância da escolaridade mínima para deputados e membros do governo, os eleitores entrevistados demonstraram entender ser fundamental que os responsáveis públicos tenham um nível aceitável de preparação. Em suas opiniões, 96% argumentam que deveria haver um nível de escolaridade mínima como critério que condiciona o acesso aos cargos de deputado e membros do governo.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 31: Motivos para haver um nível de escolaridade mínima para deputados e governantes.

De acordo com o gráfico 31, os entrevistados/as afirmam que é importante haver um nível de escolaridade mínima para deputados e governantes pelos seguintes motivos: para ser um bom lider (36%), para poder tomar as melhores decisões (33%), para ter a capacidade de governar melhor (8%) e é importante saber ler e escrever (23%).

No gráfico 31, os eleitores entrevistados justificam as suas opiniões afirmando que é importante haver um nível de escolaridade mínimo para os referidos cargos pelos seguintes motivos: para se poder ser um bom líder, teve 36% dos votos, por ser necessário para poder tomar as melhores decisões, 33% dos votos, 8% consideram importante para ter a capacidade de governar melhor e 23% são de opinião que é importante saber ler e escrever. Independentemente dos percentuais atribuídos, importa reconhecer que, em geral, os eleitores apenas defendem a competência como condição necessária para assumir cargos públicos.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 32: Nível de satisfação com o desempenho democrático no país.

Analisando o gráfico 32, percebe que 80% dos/as entrevistos/as afirmam que o desempenho democrático no pais é mau e 20% afirmam que o desempenho democrático é bom.

A insatisfação com o desempenho democrático foi manifesta pela perda de confiança dos eleitores nas instituições do pais. O contexto de fragilidade democrática e vulnerabilidade institucional certamente não passaram despercebidos. Nas observações dos eleitores entrevistados, 80% consideraram mau o desempenho democrático no país. Contrariamente, os restantes 20% consideraram-no bom.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 33: Instituições do país que inspira mais confiança.

Em relação a confiança que as instituições do pais transmitem, a Liga Guineense dos Direitos Humanos aparece em primeiro lugar, representado por 24%, segundo os/as entrevistados/as. Em seguida aparece a Presidência (19%) e depois a assembleia (15%).

Em relação à confiança que as instituições do país transmitem, a sociedade civil, representada pela Liga Guineense dos Direitos Humanos, aparece como a mais bem posicionada com uma confiança relativa de 24% na opinião dos eleitores entrevistados. Em seguida, aparecem dois órgãos de soberania, a Presidência com 19% e a ANP com 15%.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 34: Processo do voto na Guiné-Bissau.

De acordo com o gráfico 34, verifica-se que 98% dos entrevistados afirmam que deviam começar a dar oportunidades as mulheres e jovens para assumir cargos políticos.

Sobre a participação de mulheres e jovens nos espaços de tomada de decisão, conforme o gráfico 34, verifica-se que 98% dos eleitores entrevistados são de opinião sobre a necessidade de democratização do espaço, pois permite que as mulheres e os jovens assumam cargos políticos.

Contudo, os participantes no grupo focal igualmente reconheceram essa necessidade, mas acreditam que as mulheres merecem mais e são mais confiáveis politicamente do que os jovens. Eis, abaixo, a opinião de um dos participantes.

A juventude está a reclamar falta de oportunidade sem lembrar que estão a destruir a sociedade. Um exemplo, pessoas que largaram o seu partido e foram criar outro são maioritariamente de que faixa de etária ou género? Eu aposto mais nas mulheres porque elas são responsáveis. Porque a mulher é muito mais leal do que os homens, ela não trai, sobretudo, na política.

Participante no. 6 no grupo focal em Gabu. • Entrevista de grupo focal • 2022-07-22

Apesar das observações, críticas, partilhadas, os participantes do grupo focal reconheceram que é fundamental que todos os grupos sociais tenham igualmente a mesma oportunidade e responsabilidade em termos de participação política.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 35: Processo do voto na Guiné-Bissau.

Com relação ao processo de voto no pais, 19% dos/as entrevistados/as afirmam que há falta transparência ao longo do processo, 11% afirmam que há falta de capacidade dos agentes nas mesas de voto e deviam aumentar os programas de sensibilização sobre o recenseamento.

No tocante ao processo de voto no país, os eleitores entrevistados demonstraram alguma preocupação pela forma como tem sido organizado. Em respostas obtidas, 19% julgaram haver muita falta de transparência ao longo do processo e 11% apontaram para a falta de capacidade dos agentes nas mesas de voto. No entanto, quase todos consideraram necessário aumentar os programas de sensibilização sobre o recenseamento.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 36: Opinião sobre o inquérito.

De acordo com o gráfico 36, 96% dos entrevistados/as na região de Gabu acreditam serem importantes as questões colocadas no inquérito.

No gráfico 36, 96% dos eleitores entrevistados consideram importantes as questões colocadas no inquérito. Certamente, o momento serviu de oportunidade, não só de pronunciarem sobre a importância que dão ao seu voto, como também para manifestar suas perceções em relação às instituições democráticas. Resumidamente, pelas opiniões dos eleitores, conclui-se que há muita expetativa em torno da democracia, porém a sobreposição da agenda pessoal tem sido um entrave que tem colocado a sociedade na eminência de rotura com os valores democráticos.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.