Procurou-se também observar a perceção dos eleitores sobre a questão do gênero. Durante a IXa legislatura, foi aprovada no parlamento a lei no. 4/2018, conhecida como lei de Paridade, que obriga o parlamento e o executivo a reservarem uma cota de 36% de representação para as mulheres. Apesar do esforço de organizações defensoras de direitos das mulheres, não houve, por parte dos partidos, o cumprimento das diretrizes da legislação. Perante essa manifesta resistência masculina, procurou-se questionar aos eleitores o que pensam sobre a participação de mulheres e jovens na esfera de tomada de decisão. E, consoante o gráfico 34, verifica-se que 91% dos eleitores entrevistados são da opinião de que deviria começar a dar oportunidades às mulheres e jovens para assumirem cargos políticos.
A leitura dos participantes do grupo focal coincide também com a preocupação dos entrevistados. Contudo, existe uma posição consensual dos eleitores face à participação política das mulheres e dos jovens. Houve vozes que admitem a ausência de solidariedade entre mulheres como um dos fatores que as impeçam de conquistar espaços nas esferas de tomada de decisão. Conforme um dos participantes:
Já está na hora de os jovens e as mulheres serem dirigentes. Nós as mulheres já nos deram oportunidades mesmo que não seja a 100%, podemos admitir que já tivemos, mas muitas mulheres acabam por desistir porque sentimos ciúmes uma das outras. Quando uma mulher se candidatar para um cargo política nós não a apoiamos, não votamos nela para que possa vencer. O nosso mal é que dentro das comunidades quando uma mulher é um pouco mais esclarecida que as restantes, geralmente, ficam com ciúmes ou inveja dela e lhe é atribuída o adjetivo de arrogante. Mas, já está na hora de as mulheres assumirem cargos de governantes, pois, também devemos optar pela mudança porque já temos várias experiências como os homens.
Participante no. 2 no grupo focal em Canchungo. • Entrevista de grupo focal • 2022-08-27
Outro aspeto relevante demonstrado no grupo focal é a perceção dos participantes de que obstáculos internos aos partidos impedem a ascensão de mulheres e os jovens a cargoso de tomada de decisão. Eles também as condições financeiras exigidas para a candidatura, que, de certa forma, prejudicam o acesso de mulheres e jovens o à disputa eleitoral.
(…) há um ditado em crioulo que diz que tudo aquilo que conseguimos sem esforço não a valorizamos, por isso, os jovens devem conquistar os seus espaços não ficar nas bancadas a lamentar sem ir no campo de ação.
Participante no. 1 no grupo focal em Canchungo. • Entrevista de grupo focal • 2022-08-27
No geral, as opiniões partilhadas são contrárias a qualquer possibilidade que vise desvalorizar as potencialidades das mulheres e dos jovens mediante concessões de espaços apenas com base em suas condições de gênero ou idade. Defenderam a existência de justiça no acesso às oportunidades como mecanismo para permitir que as mulheres e os jovens conquistem seus lugares nas esferas de tomadas de decisão.