Sentido do voto no Setor Autónomo de Bissau

Regional 01/08/2022 — 31/10/2022 Setor Autónomo de Bissau

O Setor Autónomo de Bissau (SAB) é a capital política, administrativa e económica da Guiné-Bissau, composta por mais de duas dezenas de bairros e seis círculos eleitorais. Como centro urbano do país, reúne praticamente todas as etnias, com predominância de Balanta e Pepel, e concentra 27% do eleitorado nacional, elegendo 20 deputados para o parlamento.

Eleitores 2018
207.659
Questionários
1.034
Meta %
0,5 %
Grupo 1 S.A.Bissau

1. PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E SOCIOECONÔMICO

O SAB, sendo o coração da vida política e social do país, apresenta uma população diversificada e ativa. A faixa etária predominante situa-se entre 30 e 49 anos, revelando um eleitorado relativamente jovem e ainda dinâmico. A distribuição de género é equilibrada, com presença marcante de mulheres, e a maioria identifica-se como cristã, seguida pela muçulmana. O casamento por usos e costumes continua a ser a forma mais comum de união, refletindo a persistência das tradições. Em termos de ocupação, destacam-se o setor público e o privado, ambos com forte peso, ao lado do comércio e da agricultura, sinalizando cidadãos integrados no tecido socioeconómico urbano.

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Gráfico 1: Etnias do público-alvo.

Segundo o gráfico 1, a etnia predominante entre os/as entrevistados/as no estudo no SAB é a etnia Balanta, representada por 18% em seguida é a etnia pepel, representada por 16%.

Como era de se esperar, o SAB, na qualidade de centro das dinâmicas sociocultural, económica e política, representa, por inerência, um lugar de encontro de etnias, tradições e cultura da Guiné-Bissau. Contudo, no âmbito deste estudo, as etnias predominantes entre os eleitores entrevistados são balantas e pepéis, com 18 e 16%, respetivamente, conforme representado no gráfico 1.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 2: Faixa etária.

A faixa etária dos entrevistados/as nessa região se encontra entre os 30-39 anos, representada por 26%, em seguida a faixa dos 40 a 49 anos, representada por 24%.

Entre os eleitores entrevistados, a faixa etária predominante está entre 30 a39 anos (26%), seguida pela faixa dos 40 a 49 anos (24%). Ou seja, trata-se de grupo relativamente jovem, no qual é possível encontrar cidadãos com dinâmicas e disposições favoráveis ao associativismo e à política.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 3: Sexo do público-alvo do estudo.

Num universo de 1034 entrevistados/as no setor autónomo de Bissau, 43% foram do sexo feminino e 57% do sexo masculino.

Em termos de participação de género, constata-se um quadro relativamente equilibrado. Numa amostra de 1.034 eleitores entrevistados no SAB, 43% são do sexo feminino e 57% masculino.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 4: Religião dos entrevistados.

A religião predominante entre os/as entrevistados/as nessa região é a cristã, representada por 57%.

Relativamente à religião dos eleitores entrevistados, a cristã representa 57%, seguida da muçulmana com 36%.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 5: Estado civil dos entrevistados.

No que diz respeito ao estado civil dos/as entrevistados/as, constatou-se que 55% são casados (as), 33% são solteiros (as), 3% são divorciados (as) e 8% são viúvos (as).

Em relação ao estado civil dos eleitores entrevistados, constatou-se que 55% eram casados, 33% solteiros, 3% divorciados e 8% viúvos.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 6: Tipos de casamento do público-alvo.

Entre os casados, o tipo de casamento predominante é o casamento de usos e costumes, representado por 53%.

No SAB, o tipo de casamento predominante baseia-se em usos e costumes de cada etnia, representando 53% dos casos. Essa modalidade demonstra a preferência dos habitantes em seguir os costumes e tradições para as uniões matrimoniais, embora muitos procuram, posteriormente, oficializar a união perante o Estado por meio do casamento civil.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 7: Capacidade eleitoral.

Quando questionados/as sobre a capacidade eleitoral do agregado familiar, 76% afirmam que no agregado menos de 10 pessoas podem votar e 24% afirmam que no agregado mais de que 10 podem votar.

Praticamente todos os eleitores entrevistados têm alguém no seu núcleo familiar com capacidade eleitoral. Em respostas obtidas, 76% afirmam ter menos de 10 pessoas que podem votar e 24% mais de 10.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 8: Nível de escolaridade.

De acordo com o gráfico 8, o nível de escolaridade predominante entre os/as entrevistados/as no SAB é o nível de escolaridade entre 10ª – 12ª classe, representado por 26% em seguida o nível entre 7.ª – 9ª classe, representado por 14%. E ainda se nota que 12% dos entrevistados/as possuem curso superior.

De acordo com o gráfico 8, o nível de escolaridade predominante entre os eleitores entrevistados no SAB é 10ª a 12ª classe, representando 26% do total, em seguida, destaca-se o grupo com escolaridade entre 7.ª a 9ª classe, correspondendo 14% dos inquiridos. Importante notar que 12% dos eleitores entrevistados possuem formação superior ou estão a cursar o ensino superior.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 9: Fonte de receita.

Outro aspeto relevante que o estudo buscou ilucidar são dominios de atividades laborais dos/as entrevistados/as. Num universo de 1034 entrevistados/as, 16% são agricultores/as, 33% trabalham no setor privado, 32% no setor público e 19% são comerciantes.

Outro aspeto relevante que o estudo buscou elucidar são os domínios de atividades laborais dos eleitores entrevistados. Num universo de 1.034 entrevistados, 33% são do setor privado, 32% atuam no setor público, 19% são comerciantes e 16% praticam a agricultura. Em termos gerais, são cidadãos com ocupação e que têm contribuído “direta ou indiretamente” para o processo de desenvolvimento socioeconómico do país. Esta introdução sintetiza as informações sobre os eleitores do SAB e, em seguida, analisaremos suas experiências e relações com o processo eleitoral.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
Grupo 2 S.A.Bissau

1.2. PERFIL SOBRE A CONFIANÇA NOS CANDIDATOS/AS

Os eleitores do SAB apresentam uma experiência consolidada em diferentes ciclos eleitorais, mas as perceções sobre candidatos e partidos são ambivalentes. Uma parte do eleitorado mantém fidelidade partidária, por convicção ou identidade política, enquanto outra parte altera o voto em função do desempenho dos representantes e do cumprimento das promessas. Nas discussões coletivas emergiu forte desconfiança: muitos consideram que os compromissos eleitorais raramente se concretizam, traduzindo-se em palavras vazias. Ainda assim, persiste a expectativa de mudança e a exigência de maior responsabilidade. Alguns participantes defenderam que, perante promessas incumpridas, os cidadãos devem ter a coragem de votar de forma diferente.

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Gráfico 10: Nº de vezes que o público-alvo já votou.

Quando questionadas/os quantas vezes já votaram, percebe-se que num universo de 1034 entrevistadas/os, 24% assumem que já votaram pelo menos 5 vezes e 22% pelo menos 6 vezes.

Procurou-se observar o nível de confiança dos eleitores nos candidatos, sobretudo o que os leva a votar ou não em determinados candidatos ou partidos. Relativamente à frequência com que experimentaram o processo eleitoral, ao serem questionados sobre quantas vezes já votaram, percebe-se que, num universo de 1.034 eleitores entrevistados, 24% assumem que já votaram pelo menos 5 vezes, 22% pelo menos 6 vezes e 22% afirmam ter votado duas vezes. Diante desse cenário, pode-se inferir que se trata de cidadãos com experiência no processo eleitoral do país.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 11: Votação nas eleições gerais.

Em relação a participação nas eleições realizadas no país, percebe-se que 16% afirmam ter votado nas eleições gerais em 1994, 4% nas eleições de 1999, 13 % nas eleições gerais de 2014 e 97% nas eleições gerais de 2019.

Em relação às eleições gerais realizadas no país, 16% afirmam ter votado em 1994, 4% em 1999 e 13% em 2014.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 12: Votação nas legislativas.

Em relação ao número de vezes que os entrevistados/as votaram nas eleições legislativas passadas, 30% afirmam ter votado pelo menos 5 vezes.

Em relação às eleições legislativas, 30% dos eleitores entrevistados afirmam ter votado pelo menos 5 vezes, enquanto 23% admitem já ter votado 6 vezes.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 13: Eleições presidenciais.

E nas eleições presidenciais passadas, 30% dos entrevistados/as afirmam ter votado pelo menos 5 vez nas eleições presidenciais.

De igual modo, nas eleições presidenciais, 30% dos eleitores entrevistados afirmam ter votado pelo menos 5 vezes, enquanto 23% admitem ter votado 6 vezes. No geral, pode-se concluir que houve, da parte dos eleitores nessas três modalidades eleitorais, uma participação equilibrada, o que lhes permite fazer alguma leitura sobre o processo. Contudo, pareces que tiveram dificuldades em entender o termo “eleições gerais”, como ocorreu em outras regiões.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 14: Nível de confiança no partido.

Durante o diagnostico também foi possível medir o nível de confiança que os entrevistados/as possuem em relação ao partido. Segundo o gráfico 14, verifica-se que 47% afirmam que não votam sempre no mesmo partido enquanto 53% afirmam que sim tem votado sempre no mesmo partido.

Durante o estudo, também foi possível medir o nível de confiança que os eleitores entrevistados depositam no partido. Nesse sentido, o gráfico indica que 47% dos inquiridos não votam sempre no mesmo partido, ao contrário de 53% que afirmam votar recorrentemente no mesmo. Assim como observado nas outras regiões, o SAB também não se desvia dessa quase disputa bipolarizada e equilibrada entre eleitores fiéis e aqueles mais voláteis em suas escolhas.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 15: Motivos para votar no mesmo partido.

E os principais motivos de terem votado sempre no mesmo partido são: confiança no partido (31%), confiança no programa de Governo (31%) e militância (37).

Entretanto, conforme o gráfico 15, os principais motivos que levam a alguns eleitores a votarem sempre no mesmo partido são: 37% justificam a militância, 31% enfatizam a confiança no partido e 31% consideram a confiança no programa de governo. Apesar da insatisfação e desilusão de eleitores com partidos e candidatos, ainda há quem acredite ou vote na possibilidade de mudança positiva para o país, e não apenas pelo dever cívico de se recensear e votar.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 16: Motivos para não votar no mesmo partido.

E os/as entrevistados/as que afirmam que não votaram no mesmo partido nas últimas eleições pelos seguintes motivos: não cumpriu as promessas da campanha anterior (40%), falta de confiança no partido (31%) e não falam a verdade (29%).

Entretanto, entre os entrevistados que não votam sempre no mesmo partido, 40% afirma que tomam essa decisão por falta de cumprimento das promessas de campanha anterior, 31% consideram que isso ocorre quando perdem a confiança no partido e 29% dizem que adotam essa postura ao perceberam que não estão a ser informados com veracidade.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 17: Nível de confiança nas promessas eleitorais dos candidatos nas eleições passadas.

Além de tentar analisar os principais motivos que influenciaram o votar ou não votar num determinado partido nas últimas eleições, o diagnostico procurou também analisar o nível de confiança dos entrevistados/as nas promessas eleitorais dos/das candidatos/as no SAB. Num universo de 1034 entrevistados/as, 61% afirmam que não acreditaram nas promessas eleitorais dos candidatos e 39% afirmam acreditar nas promessas.

Além de tentar observar os principais motivos que influenciam os eleitores a votarem num determinado partido, o estudo procurou compreender o nível de confiança dos eleitores entrevistados nas promessas eleitorais dos candidatos. Assim, 61% dos entrevistados afirmam não acreditar nas promessas eleitorais dos candidatos enquanto 39% afirmam acreditar.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 18: Motivos para acreditar nas promessas eleitorais dos candidatos nas eleições passadas.

Portanto, segundo o gráfico 18, os/as entrevistados/as que afirmam que acreditar nas promessas eleitorais dos/as candidatos/as nas últimas eleições, 43% afirmam ter confiança no candidato, 34% afirmam ter confiança no programa de Governo do partido e 23% afirmam ter confiança no partido.

Quanto aos motivos que levam eleitores a acreditarem nas promessas eleitorais dos candidatos, as justificativas são as seguintes: 43% afirmam ter confiança nos candidatos, 34% no programa de governo do partido e 23% no partido.

Durante o encontro do grupo focal, um participante disse o seguinte:

(…) devemos votar no partido que consideramos capaz de promover o desenvolvimento do país. Muitas vezes, votamos simplesmente por simpatia por alguém de um partido, sem avaliar sua capacidade de trabalhar pela melhoria de vida da população. Também existe pessoas que votam num partido por algum benefício temporário. Logo, sou da opinião que a população deveria formar um grupo forte e imparcial para defendê-las, na medida em que muitos não compreendem o sentido do voto. Recomenda-se também analisar os programas dos partidos, todavia, seria manifestamente insuficiente, porque podem apresentar bons programas e, após eleitos, não cumprirem o que foi prometido. Caso aconteça, na próxima eleição a resposta deve ser não os reeleger. Só assim será possível progredir.

Participante no . 10 no grupo focal em Bissau. • Entrevista de grupo focal • 2022-08-03

Esses momentos geralmente são de promessas e, ao mesmo tempo, de assumir compromissos políticos com eleitores. Portanto, estes não conseguem ter a certeza de quem realmente cumprirá o que disse, mas, como foi dito no grupo focal, cada eleição deve servir como oportunidade para avaliar as realizações e, então, decidir em quem votar.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 19: Motivos para não acreditar nas promessas eleitorais dos candidatos nas eleições passadas.

Entretanto, dos/as entrevistados/as que afirmam não acreditar nas promessas eleitorais do candidato nas eleições passadas, 37% afirmam que não acreditam porque não confiam no candidato, 47% afirmam que o candidato não cumpriu com as promessas das campanhas anteriores e 15% afirmam que não acreditam porque eles fazem falsas promessas.

Em relação aos motivos que levam eleitores a não acreditarem nas promessas eleitorais dos candidatos, 37% sustentam não acreditar devido à falta de confiança no candidato, 47% mencionam o não cumprimento de promessas das campanhas anteriores e 15% citam a falsidades das promessas.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 20: Processo democrático.

Quando questionados/as sobre o processo democrático do pais, num universo de 1034 entrevistados/as, 69% afirmam que a democracia serve para a paz e justiça social e 31% afirmam que a democracia serve para o desenvolvimento do pais.

No geral, as duas observações indicam que os eleitores não têm dúvidas sobre o que a democracia é capaz de fazer para favorecer o bem comum dos cidadãos. Reconhecidamente, as dinâmicas democráticas podem estar com algumas dificuldades, mas talvez não são por incompreensão dos eleitores sobre o que pode fazer a democracia e isso ficou em suas próprias respostas.

Numa reunião de grupo focal, um participante enfatizou que muitos eleitores não compreendem o real sentido do voto e acrescentou:

(…) muitos votam por votar ou por acreditar que é uma obrigação, sem um entendimento profundo da razão do voto, o que contribui para insatisfação com a governação. As pessoas não percebem que podem e devem sair às ruas para reivindicar seus direitos.

Participante no. 7 no grupo focal em Bissau. • Entrevista de grupo focal • 2022-08-03

No geral, as duas observações indicam que os eleitores não têm dúvidas sobre a capacidade de democracia de favorecer o bem comum.

Reconhecidamente, as dinâmicas democráticas podem apresentar dificuldades, porém estas talvez não decorrem por incompreensão, por parte dos eleitores, sobre o papel da democracia conforme evidenciado nas suas respostas.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 21: Significado do período da campanha eleitoral para o público-alvo.

De acordo com o gráfico 21, 66% dos entrevistados/as afirmam que o período da campanha eleitoral é uma oportunidade para apresentar as preocupações da comunidade, 17% responderam que o período da campanha eleitoral significa conflitos entre famílias e pessoas na tabanca e 9% afirmam que significa disputa religiosa entre cristãos e muçulmanos.

Após as justificativas sobre o potencial da democracia, os eleitores entrevistados foram solicitados a refletir sobre o significado do período da campanha eleitoral. Como demonstraram, 66% defendem que é uma oportunidade para apresentar suas preocupações aos partidos e candidatos, enquanto 17% consideram que é um período de conflitos entre famílias e pessoas e 9% afirmam que é um período de disputa religiosa entre cristãos e muçulmanos. Obviamente, todas essas manifestações ocorrem em todo o país durante a campanha eleitoral.

Essa preocupação foi reforçada por um participante do grupo focal, que alertou para os riscos que esse comportamento pode causar à sociedade, justificando que:

(…) a democracia pode gerar divisão na família, na etnia, na religião e na comunidade entre outros. Essas divisões decorrem de relacionamentos desiguais entre as pessoas de diferentes posições políticas, o que pode incentivar o surgimento de hostilidades, espaços para insultos e acordos questionáveis.

Participante no . 10 no grupo focal em Bissau. • Entrevista de grupo focal • 2022-08-03

Apesar de outras indicações, a compreensão da ideia central da campanha eleitoral preocupa os eleitores, conforme os próprios manifestaram.

Em linhas gerais, os eleitores demonstraram compreenderas relações estabelecidas com os políticos durante e após a campanha, além de alertarem para os riscos de inversão do sentido e do significado esperado de uma campanha eleitoral.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
Grupo 3 S.A.Bissau

1.3. PERFIL SOBRE A INFLUÊNCIA NO ATO DE VOTAR

No SAB, o voto é visto como instrumento de mudança e resolução de problemas, mas a sua prática está longe de ser totalmente livre. Entrevistados relataram influências familiares, de líderes comunitários e de partidos que procuram orientar a escolha dos eleitores. Em muitos casos, tais influências traduzem-se em ofertas materiais ou promessas imediatas, apontadas como tentativas de compra de votos. Também surgem referências a ameaças ou intimidações, que fragilizam a autonomia individual. Apesar disso, predomina a convicção de que o voto deve ser pessoal e soberano, refletindo o desejo de participação ativa na vida política e de afirmação da cidadania.

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Gráfico 22: Significado do ato de votar para o público-alvo.

O estudo também procurou entender o que significa o ato de votar para o público-alvo no SAB. Assim sendo, num universo de 1034 entrevistados/as, 47% afirmam que para eles o ato de votar significa eleger o candidato com melhor Programa de Governo.

Nesta parte, buscou-se observar as influências que os eleitores sofrem ao votar. Ou seja, investigou-se até que ponto eles são autónomos para decidir em quem votar, sem se deixarem influenciar por terceiros. A questão colocada aos eleitores visava essencialmente compreender o significado do ato de votar. O estudo também procurou entender essa preocupação entre os eleitores do SAB. Assim, num universo de 1034 entrevistados/as, 47% afirmam que votar significa eleger o candidato com o melhor programa de governo, 31% também priorizam o candidato com o melhor programa de governo e 22% optam pelo partido que transmite confiança.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 23: Motivos que justifica o ato de votar.

Segundo o gráfico 23, 98% dos entrevistados/as afirmam que votaram nas eleições passadas porque viram no candidato uma oportunidade de resolver os diferentes problemas que o país enfrenta.

Sobre o exercício de voto, 98% dos eleitores entrevistados afirmam que ter votado nas eleições porque viram no candidato uma oportunidade de resolver os problemas do país. As demais questões perderam relevância, já que os eleitores não as consideram o principal motivo para sua decisão.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 24: Influências na hora de escolher o partido. A sua orientação de voto vem por parte de:

Em relação a orientação na hora de votar, das respostas obtidas percebe-se com o gráfico 24 que as respostas não alcançaram significância.

Da mesma forma, em relação à orientação no momento do voto, as respostas obtidas revelam, por meio do gráfico 24, que os eleitores não demonstraram influência de qualquer tipo.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 25: Influências na hora de escolher o partido. A sua orientação de voto é:

Entretanto, dos que não escolheram as opções acimas, 95% afirmaram que orientação de voto é pessoal.

Entretanto, dos que não escolheram as opções mencionadas, 95% afirmam que a decisão de voto é pessoal.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 26: Influências na hora de escolher o partido. A minha orientação de voto é infuenciada tambem por:

Percebe-se com o gráfico 26 que as respostas não alcançaram significância.

Além de não admitirem a influência de terceiros nas suas decisões de voto, também não reconheceram a existência de práticas tradicionais e religiosas coercitivas que os influenciam. Observa-se no gráfico 26 que as respostas não apresentaram significância.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 27: Bens para angariar votos.

Além de serem influenciados/as de alguma forma, num universo 1034 respostas, 74% dos/as entrevistados/as afirmam que os partidos e os candidatos oferecem bens materiais para angariar voto nas comunidades.

Embora não admitam a influência de terceiros nas suas decisões de voto, 74% dos eleitores entrevistados admitem que partidos e candidatos disponibilizam bens materiais para angariar votos durante a campanha eleitoral e 26% afirmam desconhecer esse facto. A questão que se coloca é a seguinte: por que os partidos e candidatos têm persistido nessa estratégia de “doação” de materiais diversos durante o período da campanha eleitoral? Quem ganha e quem perde nessa suposta relação de troca de favores? Talvez essas e outras questões ajudem a compreender até que ponto os eleitores não são autónomos em decidir livremente o seu voto, e a. maioria apresenta alguma limitação em termos de compreensão do significado que um ato de votar pode ter na sua própria vida.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 28: Os bens oferecidos para angariar votos.

Segundo o gráfico 28, os bens oferecidos para angariar votos nas comunidades são: camisolas (24%), arroz (31%) e dinheiro (19%).

Portanto, segundo o gráfico 28, observa-se que os bens mais doados com o objetivo de angariar votos nos bairros são: 31% indicam o arroz, 24% as camisolas e 19% o dinheiro. Obviamente, nem todos os partidos e candidatos se sentem satisfeitos com o retorno do investimento realizado. Aliás, conforme exposto anteriormente, não basta entregar os bens para garantir o voto dos eleitores, e o SAB, talvez por concentrar a maior parte da massa crítica nacional, apresenta uma situação de compra de consciência menos visível em comparação com outras regiões.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 29: Os beneficiários dos bens oferecidos.

Os principais beneficiários, segundo os/as entrevistados/as são: o responsável local do partido (21%) e ou jovens (14%).

Entretanto, o gráfico 29 permite verificar que os principais beneficiários, segundo a perceção dos eleitores entrevistados, são: o responsável local do partido (21%) e o responsável da juventude (14%). Diante disso, muitos eleitores compreendem a razão da pressão exercida pelas lideranças sobre a população para que vote de acordo com interesses alheios.

Por isso, um participante do grupo focal procurou diferenciar os eventos ocorridos nas regiões cem relação aos de Bissau:

A influência de terceiros é muitas vezes percebida como um fenômeno restrito a comunidades com menor acesso à educação. Entretanto, essa visão não corresponde à realidade, como demonstram os casos comuns de influência observados em Bissau. indivíduos com baixa escolaridade são mais vulneráveis a enganos devido à falta de conhecimento sobre determinados assuntos. Por outro lado, em instituições públicas e privadas, ocorrem situações como promessas de promoção ou nomeação em troca de apoio, além de casos em que a filiação partidária se torna uma exigência para garantir emprego.

Participante no.10 no grupo focal em Bissau. • Entrevista de grupo focal • 2022-08-03

Salienta-se que cada público eleitor é alvo de um mecanismo específico para influenciar sua decisão de voto, e o eleitor relatou a forma como servidores públicos são coagidos a apoiar determinados partidos e candidatos.

Nesta parte, ficou evidente o não reconhecimento, por parte de eleitores entrevistados, de influência de terceiros ou de uso de mecanismos coercitivos no momento do voto. Contudo, admitiram influencias mediante a oferta de cargos, empregos, bens materiais e dinheiro durante o período eleitoral, tanto nas instituições quanto nos bairros com o propósito de alterar a decisão dos eleitores.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
Grupo 4 S.A.Bissau

1.4. PERFIL SOBRE O NÍVEL DE CONFIABILIDADE DO PROCESSO DEMOCRÁTICO NO PAÍS

Entre os cidadãos de Bissau, destaca-se a ideia de que deputados e dirigentes políticos devem ter escolaridade mínima, entendida como condição para governar com competência. Mas o tema divide opiniões: enquanto alguns defendem tal requisito, outros lembram que dirigentes com estudos cometeram igualmente erros graves. A perceção sobre a democracia é marcada pela insatisfação: a maioria classifica o desempenho institucional como fraco, apontando falta de credibilidade e de resultados. Apenas a Liga dos Direitos Humanos surge como entidade amplamente respeitada. Em contrapartida, existe forte consenso em favor de maior participação de mulheres e jovens, bem como de maior transparência no processo eleitoral.

regional

Gráfico 30: Nível de escolaridade mínima para deputados e governantes.

Quando questionados/as sobre a importância da escolaridade mínima para deputados e governantes, os 96% dos/as entrevistados/as afirmam que sim deveria haver um nível de escolaridade mínima para deputados e governantes.

Essa parte apresenta observações interessantes sobre o nível de confiança dos eleitores em relação aos eleitos, sobretudo no que diz respeito ao preparo e ao desempenho democrático no país. Quanto à escolaridade, os eleitores entrevistados a consideram fundamental para a melhoria do desempenho da democracia e das instituições democráticas. Não tiveram dúvidas sobre a importância da escolaridade para deputados e membros do governo, e 96% afirmam que aprovariam a ideia como requisito para o acesso a cargos públicos.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 31: Motivos para haver um nível de escolaridade mínima para deputados e governantes.

De acordo com o gráfico 31, os entrevistados/as afirmam que é importante haver um nível de escolaridade mínima para deputados e governantes pelos seguintes motivos: para ser um bom lider (43%), para poder tomar as melhores decisões (21%), para ter a capacidade de governar melhor (15%) e é importante daber ler e escrever (21%).

No que diz respeito à instrução escolar, os entrevistados afirmam que é importante haver um nível mínimo de escolaridade mínimo para deputados e governantes pelos seguintes motivos: 43% justificam que isso é importante para se ser um bom líder, 21% consideram fundamental para tomar as melhores decisões, 15% acham que isso ajuda a governar melhor e 21% justificam que é importante saber ler e escrever. Grosso modo, a utilidade de instrução escolar, conforme a visão dos eleitores, é fundamental para uma boa conceção de políticas e projetos públicos.

Apesar da concordância em estipular um nível mínimo de escolaridade como critério de acesso a cargos públicos, na opinião dos participantes do grupo focal, a medida, caso posta em prática, seria meramente excludente. Um dos participantes deixou as seguintes considerações:

(…) na minha opinião, esse não deveria ser um problema na Guiné-Bissau atualmente, porque não somos nós que estamos na vida da escola, mas a escola que está na nossa vida. Por esse motivo, não devemos construir uma sociedade que exclua pessoas devido às suas limitações educacionais.

Participante no .10 no grupo focal em Bissau. • Entrevista de grupo focal • 2022-08-03

Numa leitura um pouco diferente da do interveniente anterior, todavia com uma postura crítica em relação ao critério de reconhecimento da competência, outro participante espelhou o assunto de seguinte forma:

É preciso ser sincero ao discutir níveis de escolaridade, pois são justamente pessoas com maior grau de formação que mais cometem injustiças contra aqueles com menor instrução. Por essa razão, considero razoável uma escolaridade até 9.º ou mesmo até 6.º ano. O principal desafio está em regulamentar o setor político, sobretudo o parlamento, dado que é lá que são submetidos diversos projetos de lei para análise e votação.

Participante no.8 no grupo focal em Bissau. • Entrevista de grupo focal • 2022-08-03

O menosprezo pela importância do papel da escola e da competência na estruturação da sociedade guineense tem ganhado cada vez mais visibilidade no debate político. Alguns eleitores acreditam que o acesso ao espaço público de tomada de decisão deve ser livre a qualquer cidadão, independentemente de seu nível de preparo.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 32: Nível de satisfação com o desempenho democrático no país.

Analisando o gráfico 32, percebe que 76% dos/as entrevistos/as afirmam que o desempenho democrático no pais é mau e 20% afirmam que o desempenho democrático é bom.

Quando foram solicitados a manifestar satisfação sobre o desempenho da democracia no país, conforme se vê no gráfico 32, 76% dos eleitores entrevistados afirmam que o desempenho democrático no país é mau e 20% afirmam que é bom. O histórico da democracia tem causado muita deceção e descrença nos eleitores em relação à vontade dos autores políticos em se apropriarem de princípios e valores democráticos para promover um desenvolvimento sustentável. A persistente instabilidade, contudo, acaba por ser um fator de obstáculo ao desempenho governativo.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
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Gráfico 33: Instituições do país que inspira mais confiança.

Em relação a confiança que as instituições do pais transmitem, a Liga Guineense dos Direitos Humanos aparece em primeiro lugar, representado por 28%, segundo os/as entrevistados/as. Em seguida aparece a força de defesa (13%) e a presidência (11%).

A insatisfação com o desempenho democrático intensificou-se a manifestação de perda de confiança dos eleitores nas instituições do país. O contexto de fragilidade democrática e vulnerabilidade institucional, levou os eleitores entrevistados a expressarem sua falta de confiança no desempenho das instituições. Quanto à a confiança que as instituições do país transmitem aos eleitores, a Liga Guineense dos Direitos Humanos, em representação das organizações da sociedade civil, aparece como a mais credível, com 28%, seguida das Forças de Defesa, com 13% e da Presidência da República, com 11%.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 34: Oportunidade para as mulheres e jovens para assumir cargos políticos.

De acordo com o gráfico 34, verifica-se que 93% dos entrevistados afirmam que deviam começar a dar oportunidades as mulheres e jovens para assumir cargos políticos.

Procurou-se também observar a perceção dos eleitores sobre a questão do género. Durante a IXa legislatura foi aprovada no parlamento a Lei no.4/2018, conhecida como Lei de Paridade, que obriga o parlamento e o executivo a reservarem uma quota de 36% de representação para as mulheres. Apesar do esforço de organizações defensoras de direitos das mulheres, os partidos não cumpriram as diretrizes da legislação. Diante da manifesta resistência masculina, questionou-se aos eleitores o que pensam sobre participação de mulheres e jovens na esfera de tomada de decisão. De acordo com o gráfico 34, verifica-se que 93% eleitores entrevistados opinam que deveria começar a dar oportunidades a mulheres e jovens para assumirem cargos políticos.

O ponto de vista dos participantes do grupo focal coincide com a preocupação dos entrevistadas. Contudo, existe uma posição consensual dos eleitores em relação à participação política das mulheres e dos jovens. Uma participante do grupo focal enfatizou a questão do preconceito contra mulheres como a maior barreira:

(…) a oportunidade constantemente mencionada refere-se a proporcionar às mulheres o espaço para lutar e conquistar posições de destaque na política, em condições de igualdade com os homens. Existem preconceitos em relação à equidade de gênero que precisam ser superados, sendo importante destacar que a lei existe e deve ser cumprida em todas as esferas sociais (…)

Participante no.8 no grupo focal em Bissau. • Entrevista de grupo focal • 2022-08-03

Já em relação aos jovens, embora os participantes do grupo focal reconheceram que deveria haver a inclusão dos dois grupos, consideram que os jovens precisam se adequar a uma postura que o faça beneficiar dos seus direitos. Segundo um dos participantes:

(…) os jovens guineenses apresentam uma participação política negativa, que os impede de reivindicar justamente seus direitos. Embora exerçam a cidadania, não cumprem os deveres correspondente, como procurar uma formação académica de qualidade para competir no mercado de trabalho. Consideram que o acesso ao emprego está vinculado à militância partidária (…).

Participante no.9 no grupo focal em Bissau. • Entrevista de grupo focal • 2022-08-03

Os participantes reconheceram a necessidade de democratizar a esfera de tomada de decisão, incluindo a participação de mulheres e jovens. No entanto, apontaram barreiras que precisam ser quebradas para legitimar o acesso, especialmente no caso dos jovens, que dependem de si mesmos para isso.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 35: Processo do voto na Guiné-Bissau.

Com relação ao processo de voto no pais, 39% dos/as entrevistados/as afirmam que há falta transparência ao longo do processo, 21% afirmam que se deveria aumentar os programas de sensibilização sobre o processo eleitoral e 31% afirmam haver atraso na divulgação dos resultados.

Em relação ao processo de voto no país, 39% dos eleitores entrevistados denunciam a falta de transparência ao longo do processo, 21% afirmam que deveria ser reforçado os programas de sensibilização sobre o processo eleitoral e 31% demonstram preocupados com a situação de atraso na divulgação dos resultados.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.
regional

Gráfico 36: Opinião sobre o inquérito.

De acordo com o gráfico 36, 100% dos entrevistados/as no SAB afirmaram serem importantes as questões colocadas no inquérito.

De acordo com o gráfico 36, 100% dos eleitores entrevistados no SAB consideram importantes as questões levantadas no inquérito. Foi um momento que lhes possibilitou emitir opiniões sobre a importância de seus votos e o reflexo da democracia no desenvolvimento do país. Nesta parte, foram abordados aspetos estruturantes da dinâmica democrática, com ênfase nas questões de nível de escolarização dos responsáveis públicos, credibilidade das instituições e problemática de género. Todas essas questões mereceram a observação dos eleitores, que consideram que a democracia precisa ser valorizada para permitir a sua consolidação.

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.