Fanadu di Cidadania termina com apelo à justiça e integridade

No dia 21 de junho de 2025, a aldeia de Suzana, na Região de Cacheu, acolheu o ateliê de encerramento do Fanadu di Cidadania 2024-25 – um dia marcante para os jovens da Secção de Suzana, para as suas famílias e para o grupo local de mediação comunitária, os Kumpuduris di Paz Utchokooral. A atividade reuniu acima de 100 pessoas, entre elas Kuringas da GTO-Bissau, o GTO Anos i di um Djorson da Rede das Juventudes Partidárias, finalistas do Fanadu di Cidadania com os seus familiares e os Lambés responsáveis pelo processo pedagógico.

Logo pela manhã, os Fanadus saíram em cortejo da sua “baraca” – o espaço cheio de significado, onde desde novembro de 2024 se reuniam todos os fins de semana. Vestidos com trajes tradicionais, cantando e dançando, caminharam até à praça principal da tabanca, acompanhados pelos seus Lambés, os animadores responsáveis pelo acompanhamento contínuo da sua formação.

Durante estes meses, os jovens participantes exploraram o funcionamento das eleições, os critérios para um voto consciente, o papel das instituições, os símbolos nacionais, os direitos fundamentais e os mecanismos para resolução de conflitos. Fizeram também uma excursão a um local histórico da sua região, como forma de conectar a cidadania com a memória coletiva e o orgulho local.

Teatro legislativo: crítica, ação e propostas

À sombra de uma grande mangueira, o grupo de teatro do Anos i di um Djorson apresentou a peça “Kundumpai di ladu-ladu”. A encenação, construída a partir de experiências e reflexões dos próprios jovens, fez uma leitura crítica do funcionamento interno dos partidos e da administração pública: desde favoritismos e ordens ilegítimas até casos de assédio sexual, clientelismo e cortes indevidos nos salários.

Como manda o método do Teatro Legislativo, o espetáculo foi interrompido em pontos-chave para permitir intervenções do público. Os espectadores, entre eles familiares, líderes comunitários e outros jovens, foram convidados a propor alternativas de comportamento, regras e medidas legais. Cada proposta foi discutida com a ajuda de um Técnico de Acesso à Justiça, que explicou a relação de cada sugestão com a legislação vigente. No final, todas as propostas foram submetidas a voto coletivo.

Justiça, anonimato e limites do poder

Durante o debate legislativo, emergiram consensos importantes:

  • É essencial que as leis existentes sobre contratação pública, concursos e bolsas de estudo sejam respeitadas.
  • Deve haver mecanismos claros e seguros para denunciar assédio sexual e abuso de poder, garantindo anonimato e proteção às vítimas.
  • A justiça deve ser independente e protegida de interferências “de cima”, com respeito à separação de poderes e à integridade dos profissionais da área judicial.

Essas propostas refletem um desejo coletivo de mudança, com base no conhecimento adquirido ao longo do Fanadu e na prática concreta do teatro como ferramenta de expressão e transformação.

Celebração e compromisso

Ao final do dia, os participantes do Fanadu di Cidadania 2024-25 receberam os seus certificados de conclusão, entregues em ambiente festivo, com palavras de reconhecimento e encorajamento por parte dos organizadores. O momento foi registado num “retrato de família” da comunidade – símbolo de um ciclo que se fecha, mas também de um novo começo de cidadania ativa.

Uma juventude que pensa e propõe

O Fanadu di Cidadania é mais do que uma formação: é um processo de emancipação juvenil e exercício prático de democracia de base. Em Suzana, ficou claro que uma nova geração está pronta para pensar criticamente, agir com responsabilidade e exigir o cumprimento das regras – mesmo (e sobretudo) por parte daqueles que detêm poder.