Em 2022, foi realizado um diagnóstico situacional sobre o processo de voto na Guiné-Bissau, como parte da campanha intitulada Udju Riba di No Votu. O estudo foi conduzido por dois investigadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), em colaboração com o Projeto Fórum de Paz, envolvendo os 11 Grupos de Kumpuduris di Paz e os respetivos Grupos de Teatro do Oprimido.
O estudo consistiu na recolha de uma amostra de 3646 inquéritos quantitativos em todos os círculos eleitorais do país, correspondendo a 0,5% do total de eleitores e eleitoras registados/as em 2018.
No âmbito da investigação, os investigadores João Paulo Pinto Có e Rui Jorge Semedo realizaram também nove entrevistas qualitativas com grupos focais, em cada uma das regiões administrativas do país e no Setor Autónomo de Bissau.
A publicação dos resultados está prevista para 2025.
30 Anos de Memória Democrática em 200 vozes
Para a realização dos inquéritos, foram formados 200 inquiridores e inquiridoras com ampla diversidade étnica e equilíbrio de género, pertencentes aos 11 Grupos de Kumpuduris di Paz, através de uma série de oficinas com duração de quatro (4) dias cada.
O programa de formação incluiu a sistematização das experiências com o sistema democrático e multipartidarismo, introduzido no início da década de 1990, na perspetiva dos Kumpuduris di Paz e dos/as monitores comunitários/as. Em todas as regiões administrativas foram abordados vários temas relacionados com o estudo, como a participação das mulheres nas esferas de decisão e a separação dos poderes num Estado de direito e democrático.
Com o contributo da memória dos 200 Kumpuduris que participaram neste processo, foi construída uma linha do tempo das eleições legislativas, presidenciais e gerais realizadas desde o início da abertura democrática, no início dos anos 90, incluindo as diferentes intervenções militares, como os golpes de Estado, a Guerra de 7 de Junho (1998/99) e outras pressões e ingerências que provocaram a queda de governos e parlamentos eleitos ao longo destas três décadas.
Em conjunto, foram definidos critérios endógenos para garantir que os futuros processos eleitorais na Guiné-Bissau sejam livres, justos e transparentes – não apenas no dia do escrutínio, mas como prática durável e sustentável.
Em colaboração com os Grupos de Teatro do Oprimido ligados aos Grupos regionais de Kumpuduris di Paz, foram encenados conflitos e problemas comunitários frequentes e reais, vividos durante os processos eleitorais.
Onze (11) peças criadas entre 2018 e 2019 foram reapresentadas em sessões de Teatro Legislativo — inicialmente na sequência do diagnóstico sobre o sentido do voto a nível regional, e posteriormente estendidas a todos os setores administrativos do país ao longo do ano de 2022.
Os djumbais de Teatro Legislativo foram concebidos para refletir sobre as expectativas, práticas democráticas e experiências políticas das comunidades guineenses em todo o território. O objetivo foi fortalecer o exercício da cidadania e incluir a população no debate sobre as eleições.
Cada djumbai teve início com a apresentação de uma peça de teatro interativo, que evidenciava um problema ou conflito relacionado ao período eleitoral. Em seguida, abria-se um espaço de debate, no qual os participantes puderam partilhar opiniões, perspetivas e vivências sobre o tema abordado, culminando na formulação de propostas e recomendações de medidas e leis para enfrentar os problemas identificados.
Foram abordados temas como a liberdade de voto, a compra de consciência e a importância da participação cidadã no acompanhamento dos processos eleitorais.
Das sessões dos djumbais resultaram propostas e recomendações dirigidas às autoridades do país, às entidades envolvidas na organização dos processos eleitorais e às próprias comunidades onde os encontros foram realizados, com vista ao enfrentamento dos conflitos apresentados: