Metodologia

O estudo UDJU RIBA DI NO VOTU foi realizado no âmbito do 14º Passo do projeto Fórum de Paz e resultou de uma iniciativa do Grupo de Teatro do Oprimido (GTO – Bissau), e da sua congénere alemã Weltfriedensdienst e.V. (wfd) em parceria, através dos 11 “Grupos de Kumpuduris di Paz” (11 GKP), estabelecidos em todas as regiões administrativas da Guiné-Bissau, incluindo o Setor Autónomo de Bissau, SAB.

O trabalho de campo foi desenvolvido em todo o território da Guiné-Bissau, envolvendo, em cada região, GKPs nas dinâmicas de reflexão, animação e nos trabalhos de coleta de dados no terreno.

Foram utilizados, durante sessões de quatro (4) dias de trabalhos de formação com inquiridores em cada região, seis (6) jogos e dinâmicas de grupo, orientados e animados pelas técnicas do CTO e WFD.
Essa abordagem metodológica permitiu refletir nos processos sociopolíticos e eleitorais na Guiné-Bissau e teve como base a perspetiva de análise dialética inspirada no modelo das quatro “i”, conforme o diagrama a seguir:
Modelo das 4 “I”
IDEIA INSTITUIÇÃO INTERAÇÃO INTERNALIZAÇÃO

IDEIA

Todo projeto começa com uma ideia nova – algo que ainda não existe, mas que queremos pôr em prática.
No nosso exemplo, trata-se da introdução da democracia multipartidária com eleições livres, justas e transparentes na Guiné-Bissau.
Essa fase é como uma semente: expressa o desejo coletivo de mudar, de fazer diferente, de construir algo novo.

  • Exemplo 1: Introduzir eleições multipartidárias livres, justas e transparentes na Guiné-Bissau (a partir de 1994).
  • Exemplo 2: Investigar o que o povo entende por “eleições democráticas”, com uma pesquisa nacional baseada em 0,5% da população votante.

INSTITUIÇÃO

Para que a ideia ganhe forma, ela precisa ser organizada, regulamentada e apoiada por instituições.
Isso inclui leis, regras e estruturas concretas. Nesta fase, define-se quem faz o quê, como e com que recursos – é o momento de juntar cabeças e planejar.

  • Exemplo 1: Parlamento, CNE, Supremo Tribunal, GTAPE, partidos políticos, ministérios, OSCs, doadores.
  • Exemplo 2: GTO-Bissau, WFD (Alemanha), 11 Grupos de Kumpuduris di Paz, e os dois pesquisadores João Paulo Pinto Có e Rui Jorge Semedo.

INTERAÇÃO

Agora a ideia se encontra com a realidade. As instituições e os cidadãos atuam juntos – ou não – para implementar o que foi planejado.
É nesse momento que percebemos os limites práticos: o que funciona, o que é ignorado, o que ninguém pensou.
A interação mostra os conflitos, os desafios, as repetições e as lacunas. E nos obriga a negociar, ajustar e aprender na prática.

  • Exemplo 1: Registo de eleitores, verificação de candidaturas, formação de mesas, votação, contagem, recursos, publicação oficial.
  • Exemplo 2: Formação de 200 inquiridores, 3646 questionários aplicados, 9 grupos focais, 4535 participantes em teatro legislativo com propostas de mudança.

INTERNALIZAÇÃO

Tudo o que vivemos na interação deixa marcas – aprendizados, frustrações, hábitos, memórias.
Essas experiências vão sendo integradas, muitas vezes sem que percebamos, e se transformam em normas, tradições e até crenças.
Esse nível é profundo: nele moram tanto as resistências quanto a abertura para o novo. E quando surge um mal-estar coletivo, ele pode ser o sinal de que está na hora de renovar – voltando ao primeiro ciclo: a ideia.

  • Exemplo 1: Os cidadãos aprendem (ou desaprendem) o valor do voto, o papel dos partidos e o funcionamento da democracia.
  • Exemplo 2: A pesquisa e o teatro legislativo ajudam a enraizar o entendimento de democracia como direito à participação ativa, não só na eleição, mas na vida social.

O diagrama permite também analisar as eleições como parte importante do processo democrático, sobretudo a influência na construção do bem-estar social. 

As dinâmicas realizadas possibilitaram aos participantes observar, de maneira prática, objetiva e crítica, a luta pelo poder, o processo democrático e as vicissitudes inerentes a um contexto político instável, imprevisível e volátil, essencialmente, nas últimas duas décadas. 

Dessas reflexões resultaram contribuições diversas e ensinamentos pedagógicos que proporcionaram, a todos os participantes, momentos de partilha de visão, perceção da realidade sociocultural, experiências e debates, assentes na reflexão coletiva, sobre a necessidade de decisão de escolha mediante o voto e os seus reflexos práticos na vida e no cotidiano dos cidadãos.

E é justamente nessa lógica que este estudo, minuciosamente, descreve e analisa a maneira como o processo eleitoral ocorre, bem como as suas principais manifestações. Nessa pesquisa, além de aplicação de questionários, houve quatro procedimentos de coleta de dados, a saber: aplicação de questionários; grupo focal; análise de documentos institucionais para coletar dados secundários e revisão bibliográfica de obras e documentos sobre os assuntos relacionados com o processo eleitoral.

O roteiro de entrevista foi composto por cinquenta e sete questões, dividido em 4 categorias, nomeadamente: o perfil sociodemográfico e socioeconómico, perfil sobre a confiança nos candidatos/as, perfil sobre a influência no ato de votar e o perfil sobre o nível de confiabilidade do processo democrático no país.

Para o efeito, foram implicados duzentos (200) inquiridores de GKPs nas 8 regiões e mais Bissau que aplicaram um total de três mil e seiscentos e quarenta e seis questionários. Vale salientar que o cálculo do número de questionários foi realizado com auxílio da fórmula de cálculo de amostra, partindo de um número de população total, e tomando-se em consideração o número de eleitores por região, para garantir a significância estatística, uma vez que a população recenseada pelo Gabinete Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral (GTAPE) estava composta por 761.676 eleitores.
População alvo
0
Amostra
0
do Eleitorado
0 %
Inquiridores/as
0

Assim sendo, a tabela a seguir mostra a distribuição da sondagem por região, visando uma divisão equitativa no número de questionários.

Tabela 1: Total de questionários aplicados por região.

Região Nº de questionários aplicados %
Bafatá50814%
Biombo2036%
Bolama/Bijagós802%
Cacheu44912%
Oio53015%
Gabu48913%
Quinara1524%
Tombali2036%
SAB103428%
Total3646100%

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.

Houve a formação de 8 grupos focais com o propósito de responder aos questionários e fazer a recolha de informações, refletir sobre a confiança nas estratégias de partidos, candidatos/as; na influência de terceiros durante o processo eleitoral, inclusive no ato de votar e no nível de credibilidade do processo democrático no país.
Desse modo, em cada localidade foi constituído um grupo misto, composto por mulheres, jovens e homens. Em cada um, havia oito a dez participantes que, de forma muito descontraída e aberta, deram as suas contribuições. A conversa dos grupos focais durou em média duas horas de tempo, com exceção de Bissau que teve quatro horas, e foi gravada com o consentimento dos participantes que, por opção metodológica, não foram identificados pelos nomes, mas cada um era identificado por um número que tinha em mãos. No entanto, os registos foram todos transcritos com todo o rigor que o trabalho dessa natureza exige.

Durante os quatro dias de presença no campo, em cada região, o ciclo do trabalho foi concluído com a realização do “teatro legislativo”, que mobilizou a participação da comunidade local e, igualmente, assistido em cada região por um jurista de Centro de Acesso à Justiça (CAJ). O mesmo foi animado por uma técnica de GTO-Bissau e a encenação no palco ficou por conta dos elementos locais de GKP.

Cada região procurou levar para o palco pontos críticos de sua realidade, durante o período eleitoral, para ser analisado e debatido. O teatro apresentou uma abordagem interativa, encenador-plateia, com o propósito de procurar elaborar um pacote de propostas legislativas a serem submetidas ao parlamento como sugestão para a melhoria da lei-eleitoral e lei-quadro dos partidos políticos.

Vale mencionar que o público-alvo, do presente estudo, é maioritariamente jovem, contudo tenha sido englobado indivíduos de diferentes faixas etárias, dos 15 até maiores de 90 anos de idade, conforme mostra a tabela 2. Em conformidade com a mesma, verifica-se que a faixa de 19-29 anos corresponde a 19%, de 30-39 anos a 27% e de 40-49 anos a 25%, em conjunto constituem a população dominante no total dos participantes, como mostra o quadro abaixo.

Tabela 2: Faixa etária dos grupo alvo do diagnóstico.

Faixa Etária Nº de resposta %
15 a 19 anos160%
19 a 29 anos70219%
30 a 39 anos98627%
40 a 49 anos92325%
50 a 59 anos58016%
60 a 69 anos3229%
70 a 79 anos973%
80 a 89 anos170%
maior de 90 anos30%
Total3646100%

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.

A população dominante, na amostra, acompanhou o processo eleitoral desde a primeira experiência eleitoral em 1994, por essa razão, compreende-se têm competência para falar do percurso eleitoral guineense e compartilhar vivências experiências acumuladas ao longo desses anos.

Embora do ponto de vista metodológico, a priori, não se definiu a questão de divisão da população em género, contudo o resultado obtido, aleatoriamente, mostrou que foram inquiridos um número maior de homens, 56%, e 44% de mulheres, o que em termos de análise representa um percentual significativo para avaliar a contribuição das mulheres no processo.

Tabela 3: Distribuição dos questionários aplicados por sexo.

Sexo Nº de resposta %
Feminino160744%
Masculino203956%
Total3646100%

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.

O trabalho de campo para coleta de dados durou dois meses, de 11 de junho a 11 de agosto. De referir que a alteração de amostra inicial e a demora na aplicação e envio de questionários para os trabalhos de sistematização de dados condicionaram, um pouco, o seu desenrolar e, sobretudo, o cumprimento de tempo previsto para a entrega do relatório final.

ESTUDO: SENTIDO DO VOTO

🗺️ Como usar o mapa interativo

Este mapa apresenta as 8 regiões da Guiné-Bissau e o Setor Autónomo de Bissau, onde foi realizada a pesquisa Udju riba di nô votu.

Ao passar o cursor sobre uma área (ou tocar no móvel), aparece uma caixa informativa com:
• o número de questionários aplicados por setor,
• um link para ouvir o podcast em kriol com a interpretação dos dados obtidos em cada Região,
• e o acesso direto ao estudo regional completo.

🔎 Clique em “Ver estudo da região” para explorar os dados, imagens e impressões de cada território.

📊 Comparação nacional e regional: kumpuduris.com/pilares/estudo-sentido-do-voto

🎭 Sobre o Teatro Legislativo Eleitoral: kumpuduris.com/pilares/pesquisa-transformadora/teatro-legislativo-eleitoral

ESTUDO: SENTIDO DO VOTO
S.A.BISSAU REGIÃO DE BIOMBO REGIÃO DE CACHEU REGIÃO DE OIO REGIÃO DE BOLAMA-BIJAGOS REGIÃO DE QUINARA REGIÃO DE BAFATÁ REGIÃO DE GABÚ REGIÃO DE TOMBALI

S.A.BISSAU

Setor Nº de resposta Percentagem
C.E 24 60 6%
C.E 25 126 12%
C.E 26 79 8%
C.E 27 72 7%
C.E 28 99 10%
C.E 29 155 15%
SAB 443 43%
Total 1034 100%

Tabela 1: Nº de questionários por Círculo Eleitoral.
Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.

🔗 Ver análise do S.A.Bissau

🎧 Ouvir no SoundCloud

REGIÃO DE BIOMBO

Setor Nº de resposta Percentagem
Biombo 49 24%
Prabis 76 37%
Quinhhamel 20 10%
Safim 58 29%
Total 203 100%

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.

🔎 Ver estudo da região

🎧 Ouvir áudio da região

REGIÃO DE CACHEU

Setor Nº de resposta Percentagem
Bula 52 12%
Caio 36 8%
Calequisse 18 4%
Canchungo 140 31%
São Domingos e Bigéne 201 45%
Cacheu 2 0%
Total 449 100%

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.

🔎 Ver estudo da região

🎧 Ouvir gravação

REGIÃO DE OIO

Setor Nº de resposta Percentagem
Bissorã 92 17%
Farim 113 21%
Mansaba 72 14%
Mansoa 207 39%
Nhacra 46 9%
Total 530 100%

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.

🔎 Ver estudo da região

🎧 Ouvir gravação

REGIÃO DE BOLAMA-BIJAGOS

Setor Nº de resposta Percentagem
Bubaque 76 95%
Caravela 4 5%
Total 80 100%

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.

🔎 Ver estudo da região

🎧 Ouvir gravação

REGIÃO DE QUINARA

Setor Nº de resposta Percentagem
Buba 92 61%
Empada 28 18%
Fulacunda 14 9%
Tite 18 12%
Total 152 100%

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.

🔎 Ver estudo da região

🎧 Ouvir gravação

REGIÃO DE BAFATÁ

Setor Nº de resposta Percentagem
Bafatá 169 33%
Bambadinca 83 16%
Contuboel 68 13%
Cossé 45 9%
Ganadu 65 13%
Xitole 78 15%
Total 508 100%

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.

🔎 Ver estudo da região

🎧 Ouvir gravação

REGIÃO DE GABÚ

Setor Nº de resposta Percentagem
Boé 41 8%
Gabú 199 41%
Pirada 70 14%
Pitche 91 19%
Sonaco 88 18%
Total 489 100%

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.

🔎 Ver estudo da região

🎧 Ouvir gravação

REGIÃO DE TOMBALI

Setor Nº de resposta Percentagem
Catió 203 100%
Total 203 100%

Fonte: Elaboração própria. Dados do estudo.

🔎 Ver estudo da região

🎧 Ouvir gravação